• Imagen 1 STEVE JOBS, AS COISAS QUE NINGUÉM DIZ
    Quão honestamente a sua vida é avaliada.

Eternos chapa-branca


Por Mino Carta

O jornal O Globo toma as dores da revista Veja e de seu patrão na edição de terça 8, e determina: “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”. Em cena, o espírito corporativo. Manda a tradição do jornalismo pátrio, fiel do pensamento único diante de qualquer risco de mudança.
Desde 2002, todos empenhados em criar problemas para o governo do metalúrgico desabusado e, de dois anos para cá, para a burguesa que lá pelas tantas pegou em armas contra a ditadura, embora nunca as tenha usado. Os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e compactamente.
Não há necessidade de uma convocação explícita, o toque do alerta alcança com exclusividade os seus ouvidos interiores enquanto ninguém mais o escuta. E entra na liça o jornal da família Marinho para acusar quem acusa o parceiro de jornada, o qual, comovido, transforma o texto global na sua própria peça de defesa, desfraldada no site de Veja. A CPI do Cachoeira em potência encerra perigos em primeiro lugar para a Editora Abril. Nem por isso os demais da mídia nativa estão a salvo, o mal de um pode ser de todos.

O autor do editorial
exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano. Ambos desastrados, o editorialista e o líder petista.
Abalo-me a observar que a semanal abriliana em nada se parece com o Washington Post, bem como Roberto Civita com Katharine Graham, dona, à época de Watergate, do extraordinário diário da capital americana. Poupo os leitores e os meus pacientes botões de comparações entre a mídia dos Estados Unidos e a do Brasil, mas não deixo de acentuar a abissal diferença entre o diretor de Veja e Ben Bradlee, diretor do Washington Post, e entre Policarpo Jr. e Bob Woodward e Carl Bernstein, autores da série que obrigou Richard Nixon a se demitir antes de sofrer o inevitável impeachment. E ainda entre o Garganta Profunda, agente graduado do FBI, e um bicheiro mafioso.
Recomenda-se um mínimo de apego à verdade factual e ao espírito crítico, embora seja do conhecimento até do mundo mineral a clamorosa ignorância das redações nativas. Vale dizer, de todo modo, que, para não perder o vezo, o editorialista global esquece, entre outras façanhas de Veja, aquele épico momento em que a revista publica o dossiê fornecido por Daniel Dantas sobre as contas no exterior de alguns figurões da República, a começar pelo presidente Lula.

Concentro-me em outras miopias de O Globo. Sem citar CartaCapital, o jornal a inclui entre “os veículos de imprensa chapa-branca, que atuam como linha auxiliar dos setores radicais do PT”. Anotação marginal: os radicais do PT são hoje em dia tão comuns quanto os brontossauros. Talvez fossem anacrônicos nos seus tempos de plena exposição, hoje em dia mudaram de ideia ou sumiram de vez. Há tempo CartaCapital lamenta que o PT tenha assumido no poder as feições dos demais partidos.
Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.
Não é por acaso que 64% dos brasileiros não dispõem de saneamento básico e que 50 mil morrem assassinados anualmente. Ou que os nossos índices de ensino e saúde públicos são dignos dos fundões da África, a par da magnífica colocação do País entre aqueles que pior distribuem a renda. Em compensação, a minoria privilegiada imita a vida dos emires árabes.







Chapa-branca a favor
de quem, impávidos senhores da prepotência, da velhacaria, da arrogância, da incompetência, da hipocrisia? Arauto da ditadura, Roberto Marinho fermentou seu poder à sombra dela e fez das Organizações Globo um monstro que assola o Brazil-zil-zil. Seu jornal apoiou o golpe, o golpe dentro do golpe, a repressão feroz. Illo tempore, seu grande amigo chamava-se Armando Falcão.
Opositor ferrenho das Diretas Já, rejubilado pelo fracasso da Emenda Dante de Oliveira, seu grande amigo passou a atender pelo nome de Antonio Carlos Magalhães. O doutor Roberto em pessoa manipulou o célebre debate Lula versus Collor, para opor-se a este dois anos depois, cobrador, o presidente caçador de marajás, de pedágios exorbitantes, quando já não havia como segurá-lo depois das claras, circunstanciadas denúncias do motorista Eriberto, publicadas pela revista IstoÉ, dirigida então pelo acima assinado.
Pronta às loas mais desbragadas a Fernando Henrique presidente, com o aval de ACM, a Globo sustentou a reeleição comprada e a privataria tucana, e resistiu à própria falência do País no começo de 1999, após ter apoiado a candidatura de FHC na qualidade de defensor da estabilidade. Não lhe faltaram compensações. Endividada até o chapéu, teve o presente de 800 milhões de reais do BNDES do senhor Reichstul. Haja chapa-branca.
Impossível a comparação entre a chamada “grande imprensa” (eu a enxergo mínima) e o que chama de “linha auxiliar de setores radicais do PT”, conforme definem as primeiras linhas do editorial de O Globo. A questão, de verdade, é muito simples: há jornalismo e jornalismo. Ao contrário destes “grandes”, nós entendemos que a liberdade sozinha, sem o acompanhamento pontual da igualdade, é apenas a do mais forte, ou, se quiserem, do mais rico. É a liberdade do rei leão no coração da selva, seguido a conveniente distância por sua corte de hienas.
Acreditamos também que entregue à propaganda da linha auxiliar da casa-grande, o Brasil não chegaria a ser o País que ele mesmo e sua nação merecem. Nunca me canso de repetir Raymundo Faoro: “Eles querem um País de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. No mais, sobra a evidência: Roberto Civita é o Murdoch que este país pode se permitir, além de inventor da lâmpada Skuromatic a convocar as trevas ao meio-dia. Temos de convir que, na mídia brasileira, abundam os usuários deste milagroso objeto.

CartaCapital

Os cevadores de trolls



No livro “You Are Not a Gadget” (“Você não é um aplicativo”, editora Saraiva), lançado ano passado, o americano Jaron Lanier, um dos pioneiros da realidade virtual, adverte e lamenta que a internet esteja servindo para libertar o “troll interior” que todos carregamos.

Quando um colunista escreve que homofobia não é crime, não é porque ele respeita o direito de alguém não gostar de homossexuais. O que ele quer é angariar notoriedade mesmo que isso custe incentivar o preconceito contra os gays

Nós, seres cordatos e decentes na vida em sociedade, estaríamos sendo tentados pelo anonimato da rede a confessar em blogs e fóruns nossos pensamentos e preconceitos mais sórdidos. Uma espécie de Médico e o Monstro virtual cuja poção capaz de liberar o lado escuro é a certeza de que ninguém saberá que somos capazes de pensar aquelas coisas –além, claro, de evitar processos judiciais.

Lanier defende o fim dos comentários apócrifos, sem a identidade de seus autores, mas antes de tudo dá alguns conselhos às pessoas em geral para resistirem à sedução da trollagem. A primeira e mais importante delas é: nunca poste anonimamente a não ser que, se você se identificar, corra algum perigo. É um conselho muito bacana, mas ele esqueceu ou não quis se dirigir também aos trolls que estão detrás das telas destes trollzinhos, com colunas opinativas impressas ou em vídeo, instigando estes pensamentos e preconceitos sórdidos. Cevando os trolls interiores.

Foi-se o tempo em que recebíamos correntes de e-mails com artigos edificantes ou engraçados. Era até chato, eu sei, mas já comecei a sentir saudade, juro. Sobretudo de quando a leitura de uma coluna mexia comigo, quando era capaz de me fazer concordar, discordar ou até me fazer mudar de opinião sobre um assunto. Felizmente ainda há exceções, mas hoje alguns colunistas só conseguem me causar indignação. O que no passado era conhecido como “polemista” se transformou num criador de casos banal, tipo aquele bêbado do bar da esquina que provoca todo mundo. Na vida real, o bêbado iria causar repulsa nos frequentadores do boteco. No mundo virtual, arrasta um monte de gente atrás dele, rindo e replicando suas asneiras.

O cevador de troll é mais perigoso do que o troll, porque, alimentando-os, os multiplica. Quando um colunista escreve que homofobia não é crime, não é porque ele respeita o direito de alguém não gostar de homossexuais. O que ele quer é angariar notoriedade mesmo que isso custe incentivar o preconceito contra os gays e consequentemente os trolls da rede, que são atraídos por estes textos que nem moscas. Quando um articulista chama uma senadora de “primeira-dama das estrebarias” está, sim, chamando: ti, ti, ti, venham, trollzinhos, que aqui tem alpiste.

Quando alguém com meia página num jornal diz que detesta classes emergentes, dá razão ao troll mais mesquinho e o incentiva a ir em frente. Come, trollzinho, pra ficar gordinho. Saciado, o troll deve pensar: “Nossa, é legal pensar desse jeito. Se eu continuar assim, um dia vou conseguir trabalho num jornal ou revista importante”. Ou: “O segredo do sucesso é sempre dizer o que se pensa, mesmo que isso seja nojento”. Nham, nham. Arf.

Esqueça todas aquelas condenações que leu na imprensa aos internautas capazes de tripudiar sobre a doença de um ex-presidente. Elas não passam de uma tentativa de maquiar com as tintas da civilidade o fato de que estas criaturas horrendas possuem um criador. Alguém que lhes dá de comer na boquinha, que os estimula a crescer, a se encorajar, a não se reprimir. Os cevadores de trolls estão todos bem empregados, não vai lhes faltar emprego. Alimentar monstrinhos atrai leitores. E eleitores.


Cynara Menezes - CartaCapital

Laranjas cortadas não param em em pé


 - As razões pelas quais o Brasil precisa de um novo modelo de polícia -

As recentes greves e mobilizações de policiais em vários Estados são um reflexo tardio de uma crise profunda que ultrapassa em muito as reivindicações salariais. Para se compreender a natureza dos fenômenos em curso, é preciso, primeiramente, observar que as duas polícias que atuam nos Estados (Civil e Militar) possuem suas origens respectivas em “campos” (no sentido de Bourdieu) determinados – que não representam especificamente os desafios da segurança pública: as Polícias Civis emergiram do campo do Direito, e as Polícias Militares, do campo da Defesa. Suas origens remontam à criação, em 1808, da Intendência Geral de Polícia da Corte e, um ano após, da Guarda Real da Polícia da Corte, por Dom João VI.

Essas estruturas, é oportuno lembrar, não surgiram para o enfrentamento das dinâmicas criminais ou para a garantia dos direitos da cidadania, mas – como ocorreu também na grande maioria dos Estados modernos – para atender à ne- cessidade de contenção de distúrbios so- ciais antes enfrentados diretamente pelas Forças Armadas. Por conta desse perten- cimento original, as instituições policiais foram “mimetizando” os campos da Defe- sa e da Justiça. Assim, durante muito tem- po, as polícias estaduais atuaram como se exércitos fossem. A Força Pública de São Paulo contou com artilharia aérea e esteve envolvida em conflitos em vários Estados. Em 1905, essa polícia contratou a Missão Francesa, recebendo dela instrução mi- litar, 12 anos antes do Exército. Em 1932, travou guerra contra o Exército, disputa que Getúlio Vargas só venceu por contar com o apoio da polícia mineira. Isso esti- mulou a Constituição de 1934 a declarar as forças públicas estaduais como “forças auxiliares e de reserva do Exército”, dispo- sição que permanece até hoje.

De outra parte, as polícias civis trans formam-se em “filtros” do Poder Judiciá rio, selecionando os fatos que mereceriam apreciação dos magistrados. De novo, a força mimética, com o inquérito policial operando como um “pré-processo” penal, em que se forma a culpa sem as garantias do contraditório e da ampla defesa – em desrespeito, portanto, à ordem igualitária que segue sendo declarada pela lei, mas violada pelo modelo. O inquérito policial, assinale-se, é outra característica do nosso modelo que se afasta da experiência inter nacional e que é, sabidamente, contrapro ducente.

Praças das PMs identificam no espelha mento de sua corporação com as Forças Armadas um dos problemas mais sérios da instituição. A maioria deles, inclusive, desejaria uma polícia desmilitarizada. Já a maioria dos oficiais preza o reflexo e atri bui destacada importância às noções de disciplina e hierarquia típicas do Exército. De outra parte, os integrantes das carreiras iniciais das PCs não se identificam como “operadores do Direito”; o que demarca uma diferença plena de repercussões com a autoimagem dos delegados, bacharéis em Direito, que lutam pela equiparação funcio nal com as chamadas “carreiras jurídicas”.

Importa perceber, então, que – em contraste com as nações modernas – os esforços pela “policialização” das polícias (conforme a expressão de Karnikowski) e pela formação de um “campo da segurança pública” ainda não foram concluídos no Brasil. Como assinala Mateus Afonso Medeiros, “está incompleta a conquista democrática da separação institucional Polícia-Justiça e Polícia-Exército”.

O que há de mais notável no modelo de polícia construído no Brasil, entretan to, deriva da opção pela repartição do ci clo de policiamento. A instituição policial moderna em todo o mundo desempenha suas funções a partir do que se denomi na “Ciclo Completo de Policiamento”; em outras palavras: as polícias modernas são instituições profissionais cujo man dato envolve as tarefas de 1) manutenção da paz pública, 2) garantia dos direitos Lucio TAvorA, AP Exército interveio durante a greve de policiais militares em Salvador, na Bahia, em janeiro RefeRências KARNIKOWSKI, Romeu Machado. De Exército Estadual à Polícia-Militar: o papel dos oficiais na policialização da Brigada Militar (1892 – 1988). Porto Alegre; Tese de Doutorado: Sociologia, UFRGS, 2010. MEDEIROS, Mateus Afonso. Aspectos Institucionais da Unificação das Polícias no Brasil. DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 47, no 2 : 271- 296; 2004. MINAYO, Maria Cecília de Souza; SOUZA, Edinilsa Ramos e CONSTANTINO, Patrícia. Riscos percebidos e vitimização de policiais civis e militares na (in)segurança pública. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(11): 2767 2779, 2007. RAMOS, Sílvia. ROLIM, Marcos e SOARES, Luiz Eduardo. O que pensam os profissionais da segurança pública, no Brasil. Ministério da Justiça/SENASP/PNUD. Relatório de pesquisa. 2009. Por MARCOS ROLIM Professor da cátedra de Direitos Humanos do IPA, autor de “A Síndrome da Rainha Vermelha” (Zahar/Oxford University, 2006) elementares da cidadania, 3) prevenção do crime e 4) apuração das responsabili dades penais. Mas, no Brasil, se entendeu que uma das polícias – a Militar – seria encarregada da “prevenção”, pela presen ça ostensiva do patrulhamento fardado e outra – a Civil – seria encarregada da in vestigação criminal. Assim, a especializa ção entre patrulheiros e investigadores, em todo o mundo feita dentro das polícias, foi aqui dividida entre duas instituições com culturas e estruturas completamente dis tintas. O resultado é que nunca tivemos duas polícias nos Estados, mas duas “me tades de polícia”, cada uma responsável por metade do ciclo de policiamento.

A bipartição do ciclo impede que os policiais encarregados da investigação tenham acesso às informações coletadas pelos patrulheiros. Sem profissionais no policiamento ostensivo, as Polícias Civis não podem contar com um competente sistema de coleta de informações. Não por outra razão, recorrem com tanta frequên cia aos “informantes” – quase sempre pes soas que mantêm ligações com o mundo do crime, condição que empresta à inves tigação limitações estruturais e, com fre quência, dilemas éticos de difícil solução. As Polícias Militares, por seu turno, impe didas de apurar responsabilidades criminais, não conseguem atuar efetivamente na prevenção, vez que a ostensividade – ao contrário do que imagina o senso comum – não previne a ocorrência do crime, mas o desloca (potenciais infratores não costu mam praticar delitos na presença de po liciais; mas não mudam de ideia, mudam de local).

Patrulhamento e investigação são, na verdade, faces de um mesmo trabalho que deve integrar as fases do planejamento da ação policial, desde o diagnóstico das tendências criminais até a formulação de planos de ação, monitoramento e avalia ção de resultados. No Brasil, isso se tornou inviável. Mas, como laranjas cortadas ao meio não permanecem em pé, as polícias intuem que precisam do ciclo completo (da outra metade). Por isso, historica mente, ambas procuram incorporar as “prerrogativas de função” que lhes faltam, o que tem estimulado a conhecida e dis funcional hostilidade entre elas, traduzida pela ausência de colaboração e, não raro, por iniciativas de boicote. Não satisfeito com a bipartição do ciclo, nosso mode lo de polícia – também de forma inédita – ainda estabeleceu diferentes “portas de entrada” para cada polícia, o que gerou no vo “corte” – agora horizontal – dentro das corporações: nas PMs temos duas partes, oficiais e não oficiais, e nas PCs, delegados e não delegados. Entre estas “partes” de polícia há um abismo de prestígio, poder, formação e remuneração que é, cada vez mais, insuportável. A ausência de carreira única em cada polícia, com efeito, inviabiliza a instituição policial brasileira, porque reafirma a desigualdade, estimula o auto ritarismo e consagra privilégios; promo vendo, muito compreensivelmente, uma “guerra” não declarada dentro das corpo rações. Também por isto, nossas polícias não conseguem completar seus efetivos e parcelas expressivas de policiais apenas aguardam oportunidade para deixar suas instituições. O problema da evasão, é cla ro, vincula-se também aos baixos salários. Esta realidade, por sua vez, agencia outras distorções, entre elas o “bico” e a forma tação de jornadas absolutamente irracio nais para a lógica do serviço público, mas funcionais para a prevalência do segundo emprego. Assim, por exemplo, jornadas de 24 por 72 horas (ou seja: plantões de 24h seguidos por três dias de folga) tornaram se comuns nas polícias civis no Brasil, ofe recendo exemplo de como se impedir que uma instituição funcione minimamente.

Policiais com um segundo emprego, entretanto, assumem vários riscos. Um estudo de Maria Cecília de Souza Minayo e Edinilsa Ramos Souza revelou que, dos Patrulhamento e investigação são faces de um mesmo trabalho que deve integrar as fases do planejamento da ação policial. No Brasil, isso se tornou inviável • cultura 7 SÁBADO, 25 DE FEVEREIRO DE 2012 4.518 policiais mortos e feridos por to das as causas, de 2000 a 2004, no Estado do RJ, 56,1% foram vitimados durante as folgas. O “bico”, entretanto, é só a ponta de um iceberg de distorções que tendem a se avolumar e cujo desfecho aponta para a formação das milícias – de longe o mais sério problema de segurança pública em alguns Estados, com destaque para o Rio.

Mas a violência sofrida pelos policiais não lhes ameaça apenas desde o “exterior”. O amplo estudo que realizamos com Silvia Ramos e Luiz Eduardo Soares (disponível em http://bit.ly/x4PWnf) chamou atenção para o fato de que parte expressiva da vio lência sofrida pelos profissionais da segu rança pública ocorre no interior das suas corporações. Assim, por exemplo, 20% dos policiais brasileiros são vítimas de tortura em seus processos de “formação”; 53,9% deles já foram humilhados pelos superio res hierárquicos e mais de um quarto dos policiais entende que sua corporação já lhes negou ou cerceou o direito de defesa. Além disso, 61,1% deles afirmaram já te rem sofrido tratamentos discriminatórios pelo fato de serem policiais civis ou mili tares, bombeiros, guardas municipais ou agentes penitenciários e pelo menos 16% das mulheres que atuam nestas institui ções já foram vítimas de assédio sexual em suas corporações.

Desrespeitados como cidadãos, obriga dos a um cotidiano embrutecedor e sem qualquer apoio psicossocial, desvaloriza dos profissionalmente, desestimulados ao estudo e à reflexão e, não raro, “adestrados” pelo autoritarismo, estes policiais irão pa ra as ruas nas piores condições, tendendo a reproduzir a mesma desconsideração em suas relações com o público, destaca damente quando tratarem com pobres e marginalizados. O círculo de estupidez e ineficiência, então, se completa com os re sultados conhecidos.

No passado, alguns dos críticos do mo delo levantaram a bandeira da unificação das polícias. Uma sugestão plena de boas intenções, mas completamente equivoca da. Múltiplas estruturas de policiamento conformam uma das características mais importantes dos modelos contemporâne os de segurança pública na grande maio ria dos países democráticos. Inglaterra e País de Gales possuem 43 forças policiais autônomas; a Noruega possui 54 polícias distritais; a Escócia, oito polícias regionais; os Estados Unidos possuem pelo me nos 25 mil polícias autônomas; a Bélgica, 2.359; o Canadá tem 450 polícias munici pais, além de várias forças provinciais e da Royal Canadian Mounted Police. Poucas nações possuem polícia única (Sri Lanka, Cingapura, Polônia, Irlanda e Israel). Polí cias menores são mais facilmente admi nistradas e avaliadas. São também mais ágeis e tendem à especialização. Institui ções policiais enormes, pelo contrário, são de difícil manejo e supervisão. Também por isso, eventual unificação das polícias no Brasil tenderia a somar os defeitos das instituições que temos, subtraindo suas virtudes. Por fim, a unificação agregaria risco considerável à democracia, incluindo a possibilidade de “emparedamento” do Estado por demandas corporativas.

O caminho da reforma, pelo contrário, deve estimular o surgimento de novas ins tituições policiais, além de integral autono mia aos Bombeiros e às perícias; tendência que – apesar dos limites constitucionais – já se impõe no Brasil que formou uma Guarda Nacional e cujos municípios têm constituído Agências de Fiscalização de Trânsito e Guardas Municipais (que, em bora sem este nome, polícias são). O fun damental é que todas elas tenham o ciclo completo de policiamento (o que no Brasil só a Polícia Federal possui) e carreiras úni cas (uma única porta de entrada em cada polícia) como no resto do mundo. Esta é a base para que possamos ter polícias efi cazes e para que as noções de segurança sejam fundadas em evidências científicas e não na cultura institucional do atraso e do preconceito. Este é também o caminho para que tenhamos polícias comunitárias acostumadas ao controle social e aos pro cessos de prestação de contas e responsa bilização pública (accountability).

Para que a existência de várias polícias com ciclo completo não seja redundante e não implique novas disputas, deve-se optar por um dos seguintes caminhos: ou se estabelece uma base distrital para cada polícia (modelo britânico) ou definimos responsabilidades distintas para as polí cias de acordo com tipos criminais (o que caracteriza, em grande parte, a experiên cia americana). Tendo presente a história centenária das polícias militares e civis no Brasil, seria de todo desaconselhável que elas fossem reorganizadas para atuar a partir de bases distritais exclusivas. O mais adequado seria a divisão de vocações por tipos penais. Assim, por exemplo, as Polí cias Civis poderiam tratar de crimes contra a vida, sequestros, crimes sexuais, tráfico de drogas e crimes do “colarinho branco”, enquanto as Polícias Militares poderiam cuidar dos delitos patrimoniais (furtos e roubos) e da manutenção da paz pública. Em um sistema do tipo, as Guardas Muni cipais poderiam responder aos conflitos de “baixa densidade” como arruaça, vandalis mo, disputas entre vizinhos, importunação ao sossego, violência doméstica etc. Uma divisão do tipo tornaria possível que tivés semos um sistema de segurança pública no Brasil, encerrando a pré-história das polícias brasileiras.

Reformas desta natureza exigem, por óbvio, um amplo esforço político, vez que nosso modelo de polícia foi, inacreditavel mente, inserido na Consti tuição Federal, notadamente em seu art. 144. Tendo em conta a destacada inaptidão do Congresso Nacional pa ra reformar o que quer que seja e o notório desinteresse do governo federal sobre es te tema, deve-se reconhecer que as perspectivas não são alentadoras. Os governa dores poderiam constituir esta agenda. Afinal, é nos Estados que a crise se insta la e – observados princípios gerais – se deveria permitir margem de autonomia aos entes da federação para que pudessem reformar e/ou instituir su as próprias polícias. Seja como for, nunca a crise do modelo de polícia no Brasil foi tão evidente. O que não nos garante qualquer solução. Afinal, convivemos com uma rea lidade política na qual tem sido preferível não pensar, não discutir e não fazer. Só por isso, as greves e protestos dos policiais têm um sentido histórico. Em seus acertos e em seus erros, as mobilizações introdu ziram um dado novo: os policiais exigem mudanças. Resta saber se alguém saberá interpretar este sentimento.

Marcos Rolim

Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr.

CARTA CAPITAL - Não, não era uma invenção ou uma desculpa esfarrapada. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. realmente preparava um livro sobre as falcatruas das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Neste fim de semana chega às livrarias “A Privataria Tucana”, resultado de 12 anos de trabalho do premiado repórter, que durante a campanha eleitoral do ano passado foi acusado de participar de um grupo cujo objetivo era quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos. Ribeiro Jr. acabou indiciado pela Polícia Federal e tornou-se involuntariamente personagem da disputa presidencial.
'A Privataria Tucana', de Amaury Ribeiro Jr.
Na edição que chega às bancas nesta sexta-feira 9, CartaCapital traz um relato exclusivo e minucioso do conteúdo do livro de 343 páginas publicado pela Geração Editorial e uma entrevista com autor (reproduzida abaixo). A obra apresenta documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado. José Serra é o personagem central dessa história. Amigos e parentes do ex-governador paulista operaram um complexo sistema de maracutaias financeiras que prosperou no auge do processo de privatização.
Ribeiro Jr. elenca uma série de personagens envolvidas com a “privataria” dos anos 1990, todos ligados a Serra, aí incluídos a filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e um sócio e marido de uma prima, Gregório Marín Preciado. Mas quem brilha mesmo é o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira. Ex-tesoureiro de Serra e FHC, Oliveira, ou Mister Big, é o cérebro por trás da complexa engenharia de contas, doleiros e offshores criadas em paraísos fiscais para esconder os recursos desviados da privatização.
O livro traz, por exemplo, documentos nunca antes revelados que provam depósitos de uma empresa de Carlos Jereissati, participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI, na conta de uma companhia de Oliveira nas Ilhas Virgens Britânicas. Também revela que Preciado movimentou 2,5 bilhões de dólares por meio de outra conta do mesmo Oliveira. Segundo o livro, o ex-tesoureiro de Serra tirou ou internou  no Brasil, em seu nome, cerca de 20 milhões de dólares em três anos.
A Decidir.com, sociedade de Verônica Serra e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, também se valeu do esquema. Outra revelação: a filha do ex-governador acabou indiciada pela Polícia Federal por causa da quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros. Por meio de um contrato da Decidir com o Banco do Brasil, cuja existência foi revelada por CartaCapital em 2010, Verônica teve acesso de forma ilegal a cadastros bancários e fiscais em poder da instituição financeira.
Na entrevista a seguir, Ribeiro Jr. explica como reuniu os documentos para produzir o livro, refaz o caminho das disputas no PSDB e no PT que o colocaram no centro da campanha eleitoral de 2010 e afirma: “Serra sempre teve medo do que seria publicado no livro”.

CartaCapital: Por que você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?
Amaury Ribeiro Jr.: Em 2000, quando eu era repórter de O Globo, tomei gosto pelo tema. Antes, minha área da atuação era a de reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas, no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro de campanha do PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil). Então, comecei a investigar essa coisa de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida profissional passou a ser sinônimo disso.
CC: Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?
ARJ: Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como repórter do Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o governador do estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa (a Fence, contratada por Serra), conforme eu explico no livro, que traz documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.
CC: Ficou surpreso com o resultado da investigação?
ARJ: A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez: investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus (que derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002) e o núcleo de inteligência da Anvisa (montado por Serra no Ministério da Saúde), com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba (ex-delegado da PF e ex-deputado federal tucano) à frente. Uma coisa que não está no livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá (Idalísio dos Santos, araponga da Aeronáutica) e Onézimo Souza (ex-delegado da PF).
CC: O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?
ARJ: Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília. Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas, tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente complicada.
CC: Você foi chamado para acabar com os vazamentos?
ARJ: Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer, intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência” que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz (na Asa Sul de Brasília), mas logo depois eu percebi que tinha caído numa armadilha.
CC: Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?
ARJ: Havia dentro do grupo de Serra um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que tinha se desentendido com Marcelo Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta em prática.
CC: Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?
ARJ: Aquilo foi uma armação, pagaram para um despachante para me incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do PSDB.
CC: E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?
ARJ: Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a história de Eduardo Jorge Caldeira (vice-presidente do PSDB), depois, da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada, justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na campanha de 2010.
CC: Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas.
ARJ: É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um cara vingativo.

O choque na USP e a militarização de São Paulo - André Forastieri


Acabou como previsto a ocupação da reitoria da USP. Duzentos homens da tropa de choque da Polícia Militar de São Paulo foram ativados para tirar 73 estudantes à força. O imprevisto foi a torrente de impropérios internéticos contra os uspianos. A rapaziada foi tratada de filhinho de papai pra baixo, com uns dobermanns advogando pau neles, cassetete, gás lacrimogêneo e cadeia.

É inveja. Quem não queria ter 21 anos e estudar na USP, zero de preocupação com grana, namorar umas mocinhas cabeça, fumar unzinho na praça do Relógio, nadar lá naquele piscinão lindo, e ainda se sentir super-rebelde, nas barricadas, parte de um movimento internacional de libertação? Bem, eu não.

Entrei em duas faculdades na USP, Jornalismo e, só de chinfra, História. A primeira abandonei. A segunda fui um dia e nunca mais voltei. Imagino ter sido jubilado nos dois cursos.

Percebi que a USP não era pra mim na minha primeira semana lá, careca, recém-chegado de Piracicaba, 17 anos. Pensei que ia encontrar a gente mais doida, interessante e livre da minha geração. Mas na minha classe eu era o único com camiseta dos Dead Kennedys e a comunicação com meus colegas era, digamos, precária.

O último ano realmente legal pra entrar na Escola de Comunicações e Artes foi o anterior - cheguei atrasado. 1982 foi o primeiro ano em que ficou difícil entrar em jornalismo, que passou a ter vestibular separado do restante das Comunicações.

Dali para frente, nota de corte da Fuvest bem alta, só gente aplicada e estudiosa entraria na ECA. O engraçado é que 1983, quando cheguei lá, foi um ano bem animado na ECA. Uma confederação de sacanas anarquistas de todas as matizes se uniu pra botar para fora do Centro Acadêmico os trombas trotskistas da Libelu, que a esta altura já estavam em descompasso com a história. Vitória dos PicaRetas e votei neles.

A USP, onde decididamente não fui feliz, era e é escola para tropa de elite, gente que vem das melhores escolas pagas, e sonho de todo vestibulando. Muita cabeça boa estudou lá, e continua estudando. Não é nem de longe uma das melhores universidades do mundo, mas continua referência de ensino e pesquisa de qualidade, para nossos pobres padrões locais.

Como qualquer universidade de primeira linha, deveria ser um espaço arejado, de diversidade e experimentação. O que inclui, sim, uma série de atividades socialmente questionáveis fora dos muros do campus.

Universidade não é para socar o máximo de informação nos miolos da juventude e produzir em série um exército de robôs tecnocratas. Trata-se de formar as melhores cabeças do país, o que é impossível sem liberdade e libertinagem.

Os argumentos contra os ocupantes da reitoria da USP são pífios. Eles quebram a lei? Primeiro, se quebram, não importa; leis não existem para serem obedecidas cegamente; a lei é para ser desobedecida e questionada abertamente quando injusta; não é possível aplaudir as rebeliões contra Mubarak e Gaddafi, ou a ocupação de Wall Street, e recriminar os uspianos por não seguir a lei.

Segundo, fumar maconha NÃO é contra a lei, o que o amigo (e também veterano da ECA) Marcelo Rubens Paiva demonstrou em artigo para o Estadão.

Terceiro, defender o direito de fumar maconha na USP sem ser preso é uma maneira de se rebelar contra a crescente truculência dos caretésimos governantes da cidade e Estado mais ricos do país. Naturalmente, eu defendo que os estudantes da USP deveriam lutar para que ninguém fosse preso por consumir droga nenhuma em todo o território nacional, e não só no seu campus...

Mas o que aconteceu agora é o mais recente capítulo da militarização do aparelho estatal paulista/paulistano. O reitor João Grandino Rodas, advogado, foi indicado em 2009 por José Serra, quando governador (embora tenha sido o segundo mais votado na lista tríplice).

Serra, que em economia é indistinguível dos petistas, em costumes é direita raivosa e higienista. Assumiu, imagino que para fins eleitorais, o manto de guardião da lei e da ordem, palavras mágicas que encantam parcela importante da numerosa, masoquista e paranoica classe média do Estado.

Existem muitos paulistas que têm algo a perder e, inseguros, anseiam pela tutela de um pai rigoroso, que dite as regras, contenha miseráveis e pardos à distância, e nos puna exemplarmente em caso de mínima infração.

Serra, sempre com a cara fechada, incorpora perfeitamente o tipo, e defende a vigilância e o microgerenciamento da vida particular do cidadão. Seu afilhado e sucessor, Gilberto Kassab, parece sujeito mais afável, mas colocou policiais militares da reserva nos comandos de 25 das 31 subprefeituras paulistanas, o que Serra, que iniciou o processo, chamava de "choque de ordem".

Também há comando militar na Secretaria de Transportes, na Companhia de Engenharia de Tráfego, no Serviço Funerário, no Serviço Ambulatorial Municipal, na Defesa Civil e na Secretaria de Segurança.

São cerca de 90 oficiais da PM com cargos importantes no governo do Estado e prefeitura. A maior parte das indicações é atribuída ao comandante geral da PM, Álvaro Camilo, três décadas na polícia militar, que assumiu o cargo em 2009.

E Geraldo Alckmin? Também é da turma da lei e ordem acima de tudo. Natural, porque integrante da prelazia católica ultraconservadora Opus Dei, ou no mínimo simpatizante muito próximo. Não assume e também não nega.

A primeira vez que isso foi noticiado foi em 2006, pela revista Época. Recentemente tivemos confirmação, do próprio secretário (e tucano) Andrea Matarazzo, que afirmou a diplomatas americanos que Alckmin é da Opus Dei, conforme telegramas revelados pelo Wikileaks. Leia aqui.

Com tudo isso, o crime em São Paulo segue firme e forte, claro, com especial destaque para o gueto de craqueiros erigido pela polícia na rua Helvétia, pleno centro de São Paulo. A corrupção continua grassando na administração pública. Playboys bêbados continuam atropelando transeuntes impunemente. Continuam batendo nossas carteiras no metrô. E por aí vai.

O reitor da USP, João Grandino Rodas, iria ser diferente de seus patrões? As denúncias contra ele se acumulam, e vão da mera extinção de cursos e compra duvidosa de imóveis a atitudes francamente brucutus, como chamar a Tropa de Choque para resolver outra ocupação (em 2006) e realizar demissão em massa de 270 funcionários em janeiro de 2011.

Chamado pela Assembleia Legislativa para se explicar, simplesmente não apareceu. Chegou a ser declarado Persona Non Grata pela congregação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, com apoio do Centro Acadêmico 11 de Agosto.

Este último foi só mais um enfrentamento. Outros necessariamente acontecerão. E não só entre os estudantes e as autoridades da USP. Porque o problema não é a USP, ou seus estudantes, ou a PM. O problema não é nem o reitor.

O problema é quem indica o reitor, a quem interessa a militarização do governo, e principalmente quem comanda os comandantes. Da próxima vez, sugiro à rapaziada começar a ocupação pelo Palácio dos Bandeirantes.

"Ocupe Wall St." é diferente dos protestos da década de 90


Uma coisa que sei é que 1% das pessoas amam as crises.
 

Quando o público está em pânico e desesperado, e ninguém parece saber o que fazer, o momento é ideal para forçar a aprovação de uma extensa lista de políticas que beneficiam as empresas: privatizar a educação e a Previdência Social, reduzir os serviços públicos, remover os últimos obstáculos ao poder das grandes companhias. Em meio à crise, isso vem acontecendo no mundo inteiro.
 

Só existe uma coisa capaz de bloquear essa tática, e felizmente é uma coisa muito grande: os outros 99% das pessoas. E esses 99% estão saindo às ruas, de Madison a Madri, para dizer: "Não, não pagaremos pela sua crise".
 

O slogan surgiu em 2008, na Itália. Ricocheteou para a Grécia, França e Irlanda, e por fim voltou. "Por que eles estão protestando?", indagam os sabichões embasbacados na televisão. Enquanto isso, o resto do mundo pergunta: "Por que demoraram tanto? Estávamos imaginando quando vocês enfim se dignariam a aparecer. Bem-vindos".
 

Muita gente traçou paralelos entre o movimento "Ocupe Wall Street" e os chamados protestos antiglobalização que conquistaram a atenção do planeta em 1999, em Seattle.
 

Foi a última ocasião em que um movimento mundial, descentralizado e comandado por jovens tomou por alvo direto o poder das empresas. E me orgulho por ter participado daquilo que chamávamos "o movimento dos movimentos".
 

Mas há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos como alvo conferências de cúpula: da Organização Mundial de Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Grupo dos 8.
Mas esses eventos são transitórios por natureza, o que nos tornava igualmente transitórios. Aparecíamos, conquistávamos manchetes no mundo todo e em seguida desaparecíamos. E no frenesi e patriotismo excessivo que se seguiram aos ataques do 11 de Setembro, foi fácil nos varrer do cenário, ao menos nos Estados Unidos.
 

Já o "Ocupe Wall Street" tem alvo fixo. E não definiu um prazo para sua presença, o que é sábio. Apenas quem se mantém firme pode criar raízes. E isso é crucial.
 

Na Era da Informação, muitos movimentos brotam como belas flores, mas logo morrem. Isso acontece porque não criam raízes e não têm planos de longo prazo para se sustentar.
 

Ser horizontal e profundamente democrático, é maravilhoso. Esses princípios são compatíveis com o árduo trabalho de construir estruturas e instituições firmes para suportar futuras tempestades. Tenho grande fé nisso.
Há mais uma coisa que esse movimento está fazendo direito: assumiu um compromisso para com a não violência. E essa imensa disciplina significou, em incontáveis ocasiões, que as reportagens da mídia tivessem por tema a brutalidade policial, injustificada e repugnante. Enquanto isso, o apoio ao movimento só cresce.
Mas a maior diferença que a década de distância entre os dois movimentos produziu é que, em 1999, nós estávamos atacando o capitalismo no pico de um boom frenético. O desemprego era baixo, as carteiras de ações propiciavam fortes lucros. A mídia estava embriagada pelo acesso fácil ao dinheiro. Então, todos preferiam falar mais sobre as empresas iniciantes de internet do que sobre os esforços para paralisar atividades reprováveis.
 

Nós insistíamos em que a desregulamentação que havia possibilitado aquele frenesi teria um custo. Que ela havia rebaixado os padrões trabalhistas. Que prejudicava o meio ambiente. As empresas se tornavam mais poderosas que os governos, e prejudicando nossas democracias.
 

Mas, para ser honesta, enfrentar um sistema econômico baseado em cobiça era uma parada indigesta enquanto as coisas iam bem, ao menos nos países ricos.
 

Passados 10 anos, parecem não existir mais países ricos. Apenas muitas e muitas pessoas ricas. Pessoas que enriqueceram saqueando o patrimônio público e exaurindo os recursos naturais do planeta.
O ponto é que hoje todos podem ver que o sistema é profundamente injusto e está escapando ao controle. A cobiça descontrolada devastou a economia mundial, e está devastando o mundo natural.
 

Estamos pescando demais em nossos oceanos, poluindo nossas águas com exploração petroleira e recorrendo às formas de energia mais sujas do planeta.
 

Esses são os fatos práticos. São tão gritantes, tão óbvios, que é muito mais fácil agora do que em 1999 promover conexão com o público, e assim expandir o movimento.
Temos de tratar esse belo movimento como se fosse a coisa mais importante do mundo. Porque de fato é.


NAOMI KLEIN, 41, é autora de "A Doutrina do Choque -a Ascensão do Capitalismo de Desastre". Reproduzido pelo "New York Times", este discurso saiu inicialmente no "Occupied Wall Street Journal".

As coisas que ninguém escreve sobre Steve Jobs



Nos dias após a morte de Steve Jobs, como é o costume, os seus amigos e colegas compartilharam suas melhores lembranças do co-fundador da Apple. Ele foi aclamado como “gênio” e “o maior CEO da geração”, por especialistas e jornalistas de tecnologia. Mas a reputação de um grande homem deve ser capaz de resistir à verdade completa. E, verdade seja dita, Jobs conseguia ser terrível com as pessoas, e o seu impacto no mundo não foi uniformemente positivo.

Nós já mencionamos muitas das coisas boas que Jobs fez durante a sua carreira. Suas conquistas foram amplas e impossíveis de resumir com facilidade. Mas pode-se enxergar o escopo do seu sucesso dessa forma: causar mudanças na sua indústria é o sonho de qualquer empreendedor, e Jobs transformou para sempre meia dúzia de indústrias diferentes, de computação pessoal a telefonia, passando por música, animação, videogames e pela indústria editorial. Ele era um sábio, um grande motivador, um juiz decisivo, um influenciador com visão de longo prazo, um excelente mestre de cerimônias e um estrategista brilhante.

Mas eis o que ele não era: perfeito. De fato, Steve fez coisas profundamente perturbadoras na Apple. Coisas rudes, desdenhosas, hostis, rancorosas: os empregados da Apple — aqueles que não estavam presos por contratos de confidencialidade — tinham uma história diferente para contar durante todos esses anos sobre Jobs e todo o medo, manipulação de bullying que o acompanhavam pela empresa. Jobs também contribuiu para problemas de nível global. O sucesso da Apple foi literalmente construído nas costas de trabalhadores chineses, incluindo crianças, todos eles aguentando turnos longos e a sombra de punições brutais por erros. E apesar de todo o papo sobre incentivar a expressão individual, Jobs impôs regras paranoicas que centralizaram o controle sobre quem poderia dizer o que em seus aparelhos e em sua empresa.

É particularmente importante sublinhar os defeitos de Jobs neste momento. O seu sucessor, Tim Cook, tem a oportunidade de mapear um novo caminho para a empresa, de estabelecer o seu estilo próprio de liderança. E, graças ao sucesso da Apple, os estudantes do estilo Steve Jobs de liderança nunca foram tão numerosos no Vale do Silício. Ele foi idolatrado e emulado muitas vezes enquanto vivo; em sua morte, Jobs se tornará um ícone ainda maior.

Depois de celebrar as conquistas dele, nós deveríamos falar livremente sobre o lado negro de Jobs e da empresa que ele ajudou a fundar. Este é o seu catálogo de piores momentos:

Censura e autoritarismo

A internet permitiu a pessoas do mundo todo se expressarem de maneira mais fácil e livre. Com a App Store, a Apple reverteu este processo. O iPhone e o iPad constituem a mais popular plataforma de computação portátil dos EUA, os mais importantes palcos de mídia e software. Mas você precisa da aprovação da Apple para colocar qualquer coisa nos aparelhos. E este é um poder que a empresa usa agressivamente.

Em nome de proteger as crianças dos malefícios do erotismo, e os adultos deles mesmos, Jobs baniu aplicativos de arte gay, guias de viagens gays, cartoons políticos, imagens sensuais, panfletos de candidatos políticos, caricaturas políticas, páginas duplas de revistas de moda e sistemas inventados pela concorrência, além de outras coisas consideradas moralmente questionáveis.

Os aparelhos da Apple nos conectaram a um mundo de informação, mas eles não permitem uma expressão completa de ideias. De fato, as pessoas que deveriam ser servidas pela Apple — “os desajeitados, os rebeldes, os encrenqueiros”, como disse o famoso comercial — foram particularmente excluídos pelas políticas de Jobs. O fato da empresa mais admirada dos Estados Unidos ter seguido um caminho tão contrário aos ideais de liberdade do país é profundamente preocupante.

Mas Jobs também nunca pareceu muito confortável com a ideia de empregados com todos os seus direitos e uma imprensa completamente livre. Dentro da Apple, há uma cultura de medo e controle ao redor das comunicações; a “Equipe Mundial de Lealdade” da Apple é especializada em caçar quem vaza informações, confiscando celulares e fazendo buscas em computadores alheios.

A Apple usa táticas coercivas também com a imprensa. A sua primeira reação a artigos que ela não gosta é geralmente de manipulação e importúnio. Depois, quem sabe ela solte estrategicamente um artigo contraditório.

Mas a Apple não se contenta com isso. Ela tem uma equipe jurídica que não se importa em aniquilar alvos pequenos. Em 2005, por exemplo, a empresa processou o blogueiro Nick Ciarelli, de 19 anos, por dar antes da hora a notícia — correta — da existência do Mac Mini. O caso não foi encerrado até que Ciarelli concordou em fechar o seu blog ThinkSecret para sempre. E nem vou explicar de novo toda a história com o Gizmodo americano e o protótipo do iPhone 4, que chegou ao ponto da Apple conseguir fazer com que a polícia invadisse a casa de um editor.

Há cerca de um mês tivemos talvez a mais assustadora amostra das tendências fascistas da Apple, quando dois agentes privados de segurança, trabalhando para a Maçã, revistaram a casa de um homem em San Francisco, à procura de um outro protótipo perdido de iPhone. Eles ameaçaram causar problemas com a imigração, e o homem disse que os agentes de segurança estavam acompanhados por policiais à paisana e não se identificaram como civis, dando a impressão de serem oficiais de polícia.

Fábricas exploradoras, trabalho infantil e direitos humanos

As fábricas da Apple na China regularmente empregam jovens adolescentes e pessoas abaixo da idade mínima de trabalho legal, que é de 16 anos. Elas submetem os empregados a muitas horas de trabalho e tentam acobertar tudo. Isso segundo um relatório da própria Apple, em 2010. Em 2011, a Apple relatou que o problema de trabalho infantil piorou.

Em 2010, o jornal Daily Mail conseguiu infiltrar um repórter dentro de uma fábrica chinesa que monta produtos para a Apple. Veja um trecho traduzido da reportagem:

Com o complexo funcionando em capacidade máxima de produção, 24 horas por dia, sete dias por semana, para atingir a demanda global pelos telefones e computadores da Apple, um dia típico começa com o hino chinês sendo tocado pelos alto-falantes, com as palavras ‘Levantem-se, levantem-se, levantem-se, milhões de corações com uma só mente’.

Como parte deste controle Orwelliano, o sistema de comunicados públicos grita anúncios o tempo inteiro, sobre quantos produtos foram feitos, sobre uma nova quadra de basquete construída para os empregados, sobre como os empregados devem ‘valorizar a eficiência a cada minuto, a cada segundo’.

Com outros slogans corporativos pintados nas paredes das oficinas — incluindo apelos como ‘alcance metas até que o sol não mais se levante’ e ‘reunamos toda a elite e a Foxconn será cada vez mais forte’ –, os empregados trabalham até 15 horas diárias.

Ao final de corredores estreitos, que lembram uma prisão, eles dormem em quartos lotados, em beliches triplas para economizar espaço. Os colchões são simples tapetes de bambu.

Apesar das temperaturas no verão chegarem a 35 graus, com 90% de humidade, não há ar condicionado. Alguns trabalhadores dizem que há dormitórios que abrigam mais de 40 pessoas e são infestados com formigas e baratas, e que é difícil dormir por causa do barulho e do fedor.

Uma empresa pode ser julgada pela forma como trata os seus mais humildes empregados. Serve como exemplo para o resto da empresa, ou, no caso da Apple, para o resto do mundo.

Em pessoa e em casa

Antes mesmo de ser afastado da empresa pela primeira vez, Jobs já tinha fama de agir como um tirano. Ele frequentemente diminuía pessoas, esbravejava contra elas e pressionava até que chegassem ao seu ponto de ebulição. Na busca pela excelência, ele deixava de lado a educação e a empatia. Seus abusos verbais nunca pararam. Ainda no mês passado a Fortune reportou uma “humilhação pública” de meia hora a que Jobs submeteu uma equipe da Apple:

“Alguém poderia me dizer o que o MobileMe deveria ser capaz de fazer?” Depois de receber uma resposta satisfatória, ele continuou: “Então por que caralhos ele não faz isso?”

“Vocês mancharam a reputação da Apple”, ele falou. “Vocês deveriam odiar uns aos outros por terem se decepcionado”.

Jobs demitiu o chefe da equipe ali mesmo.

Em seu livro The Second Coming of Steve Jobs, sobre a época de Jobs na NeXT e o seu subsequente retorno à Apple, Alan Deutschman descreveu o tratamento duro que Jobs dava aos seus subordinados:

Ele os elogiava e inspirava, às vezes de maneira muito criativa, mas também apelava para intimidação, provocação, repreensão e depreciação… Quando ele encarnava o Steve do Mal, não parecia se importar com os danos severos que causava a egos e emoções… súbita e inesperadamente, olhava para alguma coisa no qual eles estavam trabalhando e dizia que estava uma “merda”.

Jobs também tinha suas limitações pessoais. Não há registros públicos dele jamais ter feito doações para instituições de caridade, apesar do fato de ter ficado rico com o IPO da Apple em 1980 e ter acumulado um patrimônio líquido estimado em mais de 7 bilhões de dólares ao final da sua vida. Depois de encerrar os programas de filantropia da Apple em 1997, quando voltou à empresa, ele nunca mais os reinstaurou, apesar da empresa ter voltado a nadar em lucros.

É possível que Jobs tenha feito doações anônimas, ou que ele fará uma doação póstuma, mas o fato é que ele jamais abraçou ou encorajou a filantropia de forma parecida com, por exemplo, Bill Gates, que já arrecadou US$ 60 bilhões para caridade e se juntou a Warren Buffet para incentivar outros bilionários a doarem ainda mais.

“Ele claramente não tinha tempo”, foi o que disse o diretor da breve fundação de caridade de Jobs ao New York Times. E parece ser isso mesmo. Jobs não levava uma vida equilibrada. Ele era profissionalmente incansável. Trabalhava por longos períodos e permaneceu CEO da empresa até seis semanas antes da sua morte. Isso resultou em produtos incríveis, apreciados pelo mundo todo. Mas não significa que a sua rotina workaholic seja algo a se imitar.

Houve um tempo em que Jobs lutou contra a ideia de se tornar um homem de família. Ele teve uma filha chamada Lisa fora do casamento, aos 23 anos, e, segundo a Fortune, passou dois anos negando paternidade, chegando a declarar oficialmente que “não poderia ser o pai de Lisa, por ser ‘estéril e infértil’, não tendo, desta forma, capacidade física de procriar”. Jobs finalmente assumiu a paternidade, conheceu e casou com a sua atual viúva, Laurene Powell, e teve mais três filhos. Lisa estudou em Harvard e é hoje uma escritora.

Steve Jobs criou muitos objetos lindos. Ele tornou aparelhos digitais mais elegantes e fáceis de usar. Ele fez a Apple Inc. ganhar muito dinheiro depois que as pessoas já a consideravam morta. Ele sem dúvida servirá como modelo para muitas gerações de empreendedores e líderes de negócios. Se isso é uma coisa boa ou ruim, depende de quão honestamente a sua vida é avaliada.

Via GIZMODO Brasil

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