• Imagen 1 STEVE JOBS, AS COISAS QUE NINGUÉM DIZ
    Quão honestamente a sua vida é avaliada.

Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr.

CARTA CAPITAL - Não, não era uma invenção ou uma desculpa esfarrapada. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. realmente preparava um livro sobre as falcatruas das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Neste fim de semana chega às livrarias “A Privataria Tucana”, resultado de 12 anos de trabalho do premiado repórter, que durante a campanha eleitoral do ano passado foi acusado de participar de um grupo cujo objetivo era quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos. Ribeiro Jr. acabou indiciado pela Polícia Federal e tornou-se involuntariamente personagem da disputa presidencial.
'A Privataria Tucana', de Amaury Ribeiro Jr.
Na edição que chega às bancas nesta sexta-feira 9, CartaCapital traz um relato exclusivo e minucioso do conteúdo do livro de 343 páginas publicado pela Geração Editorial e uma entrevista com autor (reproduzida abaixo). A obra apresenta documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado. José Serra é o personagem central dessa história. Amigos e parentes do ex-governador paulista operaram um complexo sistema de maracutaias financeiras que prosperou no auge do processo de privatização.
Ribeiro Jr. elenca uma série de personagens envolvidas com a “privataria” dos anos 1990, todos ligados a Serra, aí incluídos a filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e um sócio e marido de uma prima, Gregório Marín Preciado. Mas quem brilha mesmo é o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira. Ex-tesoureiro de Serra e FHC, Oliveira, ou Mister Big, é o cérebro por trás da complexa engenharia de contas, doleiros e offshores criadas em paraísos fiscais para esconder os recursos desviados da privatização.
O livro traz, por exemplo, documentos nunca antes revelados que provam depósitos de uma empresa de Carlos Jereissati, participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI, na conta de uma companhia de Oliveira nas Ilhas Virgens Britânicas. Também revela que Preciado movimentou 2,5 bilhões de dólares por meio de outra conta do mesmo Oliveira. Segundo o livro, o ex-tesoureiro de Serra tirou ou internou  no Brasil, em seu nome, cerca de 20 milhões de dólares em três anos.
A Decidir.com, sociedade de Verônica Serra e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, também se valeu do esquema. Outra revelação: a filha do ex-governador acabou indiciada pela Polícia Federal por causa da quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros. Por meio de um contrato da Decidir com o Banco do Brasil, cuja existência foi revelada por CartaCapital em 2010, Verônica teve acesso de forma ilegal a cadastros bancários e fiscais em poder da instituição financeira.
Na entrevista a seguir, Ribeiro Jr. explica como reuniu os documentos para produzir o livro, refaz o caminho das disputas no PSDB e no PT que o colocaram no centro da campanha eleitoral de 2010 e afirma: “Serra sempre teve medo do que seria publicado no livro”.

CartaCapital: Por que você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?
Amaury Ribeiro Jr.: Em 2000, quando eu era repórter de O Globo, tomei gosto pelo tema. Antes, minha área da atuação era a de reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas, no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro de campanha do PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil). Então, comecei a investigar essa coisa de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida profissional passou a ser sinônimo disso.
CC: Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?
ARJ: Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como repórter do Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o governador do estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa (a Fence, contratada por Serra), conforme eu explico no livro, que traz documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.
CC: Ficou surpreso com o resultado da investigação?
ARJ: A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez: investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus (que derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002) e o núcleo de inteligência da Anvisa (montado por Serra no Ministério da Saúde), com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba (ex-delegado da PF e ex-deputado federal tucano) à frente. Uma coisa que não está no livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá (Idalísio dos Santos, araponga da Aeronáutica) e Onézimo Souza (ex-delegado da PF).
CC: O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?
ARJ: Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília. Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas, tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente complicada.
CC: Você foi chamado para acabar com os vazamentos?
ARJ: Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer, intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência” que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz (na Asa Sul de Brasília), mas logo depois eu percebi que tinha caído numa armadilha.
CC: Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?
ARJ: Havia dentro do grupo de Serra um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que tinha se desentendido com Marcelo Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta em prática.
CC: Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?
ARJ: Aquilo foi uma armação, pagaram para um despachante para me incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do PSDB.
CC: E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?
ARJ: Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a história de Eduardo Jorge Caldeira (vice-presidente do PSDB), depois, da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada, justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na campanha de 2010.
CC: Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas.
ARJ: É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um cara vingativo.

O choque na USP e a militarização de São Paulo - André Forastieri


Acabou como previsto a ocupação da reitoria da USP. Duzentos homens da tropa de choque da Polícia Militar de São Paulo foram ativados para tirar 73 estudantes à força. O imprevisto foi a torrente de impropérios internéticos contra os uspianos. A rapaziada foi tratada de filhinho de papai pra baixo, com uns dobermanns advogando pau neles, cassetete, gás lacrimogêneo e cadeia.

É inveja. Quem não queria ter 21 anos e estudar na USP, zero de preocupação com grana, namorar umas mocinhas cabeça, fumar unzinho na praça do Relógio, nadar lá naquele piscinão lindo, e ainda se sentir super-rebelde, nas barricadas, parte de um movimento internacional de libertação? Bem, eu não.

Entrei em duas faculdades na USP, Jornalismo e, só de chinfra, História. A primeira abandonei. A segunda fui um dia e nunca mais voltei. Imagino ter sido jubilado nos dois cursos.

Percebi que a USP não era pra mim na minha primeira semana lá, careca, recém-chegado de Piracicaba, 17 anos. Pensei que ia encontrar a gente mais doida, interessante e livre da minha geração. Mas na minha classe eu era o único com camiseta dos Dead Kennedys e a comunicação com meus colegas era, digamos, precária.

O último ano realmente legal pra entrar na Escola de Comunicações e Artes foi o anterior - cheguei atrasado. 1982 foi o primeiro ano em que ficou difícil entrar em jornalismo, que passou a ter vestibular separado do restante das Comunicações.

Dali para frente, nota de corte da Fuvest bem alta, só gente aplicada e estudiosa entraria na ECA. O engraçado é que 1983, quando cheguei lá, foi um ano bem animado na ECA. Uma confederação de sacanas anarquistas de todas as matizes se uniu pra botar para fora do Centro Acadêmico os trombas trotskistas da Libelu, que a esta altura já estavam em descompasso com a história. Vitória dos PicaRetas e votei neles.

A USP, onde decididamente não fui feliz, era e é escola para tropa de elite, gente que vem das melhores escolas pagas, e sonho de todo vestibulando. Muita cabeça boa estudou lá, e continua estudando. Não é nem de longe uma das melhores universidades do mundo, mas continua referência de ensino e pesquisa de qualidade, para nossos pobres padrões locais.

Como qualquer universidade de primeira linha, deveria ser um espaço arejado, de diversidade e experimentação. O que inclui, sim, uma série de atividades socialmente questionáveis fora dos muros do campus.

Universidade não é para socar o máximo de informação nos miolos da juventude e produzir em série um exército de robôs tecnocratas. Trata-se de formar as melhores cabeças do país, o que é impossível sem liberdade e libertinagem.

Os argumentos contra os ocupantes da reitoria da USP são pífios. Eles quebram a lei? Primeiro, se quebram, não importa; leis não existem para serem obedecidas cegamente; a lei é para ser desobedecida e questionada abertamente quando injusta; não é possível aplaudir as rebeliões contra Mubarak e Gaddafi, ou a ocupação de Wall Street, e recriminar os uspianos por não seguir a lei.

Segundo, fumar maconha NÃO é contra a lei, o que o amigo (e também veterano da ECA) Marcelo Rubens Paiva demonstrou em artigo para o Estadão.

Terceiro, defender o direito de fumar maconha na USP sem ser preso é uma maneira de se rebelar contra a crescente truculência dos caretésimos governantes da cidade e Estado mais ricos do país. Naturalmente, eu defendo que os estudantes da USP deveriam lutar para que ninguém fosse preso por consumir droga nenhuma em todo o território nacional, e não só no seu campus...

Mas o que aconteceu agora é o mais recente capítulo da militarização do aparelho estatal paulista/paulistano. O reitor João Grandino Rodas, advogado, foi indicado em 2009 por José Serra, quando governador (embora tenha sido o segundo mais votado na lista tríplice).

Serra, que em economia é indistinguível dos petistas, em costumes é direita raivosa e higienista. Assumiu, imagino que para fins eleitorais, o manto de guardião da lei e da ordem, palavras mágicas que encantam parcela importante da numerosa, masoquista e paranoica classe média do Estado.

Existem muitos paulistas que têm algo a perder e, inseguros, anseiam pela tutela de um pai rigoroso, que dite as regras, contenha miseráveis e pardos à distância, e nos puna exemplarmente em caso de mínima infração.

Serra, sempre com a cara fechada, incorpora perfeitamente o tipo, e defende a vigilância e o microgerenciamento da vida particular do cidadão. Seu afilhado e sucessor, Gilberto Kassab, parece sujeito mais afável, mas colocou policiais militares da reserva nos comandos de 25 das 31 subprefeituras paulistanas, o que Serra, que iniciou o processo, chamava de "choque de ordem".

Também há comando militar na Secretaria de Transportes, na Companhia de Engenharia de Tráfego, no Serviço Funerário, no Serviço Ambulatorial Municipal, na Defesa Civil e na Secretaria de Segurança.

São cerca de 90 oficiais da PM com cargos importantes no governo do Estado e prefeitura. A maior parte das indicações é atribuída ao comandante geral da PM, Álvaro Camilo, três décadas na polícia militar, que assumiu o cargo em 2009.

E Geraldo Alckmin? Também é da turma da lei e ordem acima de tudo. Natural, porque integrante da prelazia católica ultraconservadora Opus Dei, ou no mínimo simpatizante muito próximo. Não assume e também não nega.

A primeira vez que isso foi noticiado foi em 2006, pela revista Época. Recentemente tivemos confirmação, do próprio secretário (e tucano) Andrea Matarazzo, que afirmou a diplomatas americanos que Alckmin é da Opus Dei, conforme telegramas revelados pelo Wikileaks. Leia aqui.

Com tudo isso, o crime em São Paulo segue firme e forte, claro, com especial destaque para o gueto de craqueiros erigido pela polícia na rua Helvétia, pleno centro de São Paulo. A corrupção continua grassando na administração pública. Playboys bêbados continuam atropelando transeuntes impunemente. Continuam batendo nossas carteiras no metrô. E por aí vai.

O reitor da USP, João Grandino Rodas, iria ser diferente de seus patrões? As denúncias contra ele se acumulam, e vão da mera extinção de cursos e compra duvidosa de imóveis a atitudes francamente brucutus, como chamar a Tropa de Choque para resolver outra ocupação (em 2006) e realizar demissão em massa de 270 funcionários em janeiro de 2011.

Chamado pela Assembleia Legislativa para se explicar, simplesmente não apareceu. Chegou a ser declarado Persona Non Grata pela congregação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, com apoio do Centro Acadêmico 11 de Agosto.

Este último foi só mais um enfrentamento. Outros necessariamente acontecerão. E não só entre os estudantes e as autoridades da USP. Porque o problema não é a USP, ou seus estudantes, ou a PM. O problema não é nem o reitor.

O problema é quem indica o reitor, a quem interessa a militarização do governo, e principalmente quem comanda os comandantes. Da próxima vez, sugiro à rapaziada começar a ocupação pelo Palácio dos Bandeirantes.

"Ocupe Wall St." é diferente dos protestos da década de 90


Uma coisa que sei é que 1% das pessoas amam as crises.
 

Quando o público está em pânico e desesperado, e ninguém parece saber o que fazer, o momento é ideal para forçar a aprovação de uma extensa lista de políticas que beneficiam as empresas: privatizar a educação e a Previdência Social, reduzir os serviços públicos, remover os últimos obstáculos ao poder das grandes companhias. Em meio à crise, isso vem acontecendo no mundo inteiro.
 

Só existe uma coisa capaz de bloquear essa tática, e felizmente é uma coisa muito grande: os outros 99% das pessoas. E esses 99% estão saindo às ruas, de Madison a Madri, para dizer: "Não, não pagaremos pela sua crise".
 

O slogan surgiu em 2008, na Itália. Ricocheteou para a Grécia, França e Irlanda, e por fim voltou. "Por que eles estão protestando?", indagam os sabichões embasbacados na televisão. Enquanto isso, o resto do mundo pergunta: "Por que demoraram tanto? Estávamos imaginando quando vocês enfim se dignariam a aparecer. Bem-vindos".
 

Muita gente traçou paralelos entre o movimento "Ocupe Wall Street" e os chamados protestos antiglobalização que conquistaram a atenção do planeta em 1999, em Seattle.
 

Foi a última ocasião em que um movimento mundial, descentralizado e comandado por jovens tomou por alvo direto o poder das empresas. E me orgulho por ter participado daquilo que chamávamos "o movimento dos movimentos".
 

Mas há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos como alvo conferências de cúpula: da Organização Mundial de Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Grupo dos 8.
Mas esses eventos são transitórios por natureza, o que nos tornava igualmente transitórios. Aparecíamos, conquistávamos manchetes no mundo todo e em seguida desaparecíamos. E no frenesi e patriotismo excessivo que se seguiram aos ataques do 11 de Setembro, foi fácil nos varrer do cenário, ao menos nos Estados Unidos.
 

Já o "Ocupe Wall Street" tem alvo fixo. E não definiu um prazo para sua presença, o que é sábio. Apenas quem se mantém firme pode criar raízes. E isso é crucial.
 

Na Era da Informação, muitos movimentos brotam como belas flores, mas logo morrem. Isso acontece porque não criam raízes e não têm planos de longo prazo para se sustentar.
 

Ser horizontal e profundamente democrático, é maravilhoso. Esses princípios são compatíveis com o árduo trabalho de construir estruturas e instituições firmes para suportar futuras tempestades. Tenho grande fé nisso.
Há mais uma coisa que esse movimento está fazendo direito: assumiu um compromisso para com a não violência. E essa imensa disciplina significou, em incontáveis ocasiões, que as reportagens da mídia tivessem por tema a brutalidade policial, injustificada e repugnante. Enquanto isso, o apoio ao movimento só cresce.
Mas a maior diferença que a década de distância entre os dois movimentos produziu é que, em 1999, nós estávamos atacando o capitalismo no pico de um boom frenético. O desemprego era baixo, as carteiras de ações propiciavam fortes lucros. A mídia estava embriagada pelo acesso fácil ao dinheiro. Então, todos preferiam falar mais sobre as empresas iniciantes de internet do que sobre os esforços para paralisar atividades reprováveis.
 

Nós insistíamos em que a desregulamentação que havia possibilitado aquele frenesi teria um custo. Que ela havia rebaixado os padrões trabalhistas. Que prejudicava o meio ambiente. As empresas se tornavam mais poderosas que os governos, e prejudicando nossas democracias.
 

Mas, para ser honesta, enfrentar um sistema econômico baseado em cobiça era uma parada indigesta enquanto as coisas iam bem, ao menos nos países ricos.
 

Passados 10 anos, parecem não existir mais países ricos. Apenas muitas e muitas pessoas ricas. Pessoas que enriqueceram saqueando o patrimônio público e exaurindo os recursos naturais do planeta.
O ponto é que hoje todos podem ver que o sistema é profundamente injusto e está escapando ao controle. A cobiça descontrolada devastou a economia mundial, e está devastando o mundo natural.
 

Estamos pescando demais em nossos oceanos, poluindo nossas águas com exploração petroleira e recorrendo às formas de energia mais sujas do planeta.
 

Esses são os fatos práticos. São tão gritantes, tão óbvios, que é muito mais fácil agora do que em 1999 promover conexão com o público, e assim expandir o movimento.
Temos de tratar esse belo movimento como se fosse a coisa mais importante do mundo. Porque de fato é.


NAOMI KLEIN, 41, é autora de "A Doutrina do Choque -a Ascensão do Capitalismo de Desastre". Reproduzido pelo "New York Times", este discurso saiu inicialmente no "Occupied Wall Street Journal".

As coisas que ninguém escreve sobre Steve Jobs



Nos dias após a morte de Steve Jobs, como é o costume, os seus amigos e colegas compartilharam suas melhores lembranças do co-fundador da Apple. Ele foi aclamado como “gênio” e “o maior CEO da geração”, por especialistas e jornalistas de tecnologia. Mas a reputação de um grande homem deve ser capaz de resistir à verdade completa. E, verdade seja dita, Jobs conseguia ser terrível com as pessoas, e o seu impacto no mundo não foi uniformemente positivo.

Nós já mencionamos muitas das coisas boas que Jobs fez durante a sua carreira. Suas conquistas foram amplas e impossíveis de resumir com facilidade. Mas pode-se enxergar o escopo do seu sucesso dessa forma: causar mudanças na sua indústria é o sonho de qualquer empreendedor, e Jobs transformou para sempre meia dúzia de indústrias diferentes, de computação pessoal a telefonia, passando por música, animação, videogames e pela indústria editorial. Ele era um sábio, um grande motivador, um juiz decisivo, um influenciador com visão de longo prazo, um excelente mestre de cerimônias e um estrategista brilhante.

Mas eis o que ele não era: perfeito. De fato, Steve fez coisas profundamente perturbadoras na Apple. Coisas rudes, desdenhosas, hostis, rancorosas: os empregados da Apple — aqueles que não estavam presos por contratos de confidencialidade — tinham uma história diferente para contar durante todos esses anos sobre Jobs e todo o medo, manipulação de bullying que o acompanhavam pela empresa. Jobs também contribuiu para problemas de nível global. O sucesso da Apple foi literalmente construído nas costas de trabalhadores chineses, incluindo crianças, todos eles aguentando turnos longos e a sombra de punições brutais por erros. E apesar de todo o papo sobre incentivar a expressão individual, Jobs impôs regras paranoicas que centralizaram o controle sobre quem poderia dizer o que em seus aparelhos e em sua empresa.

É particularmente importante sublinhar os defeitos de Jobs neste momento. O seu sucessor, Tim Cook, tem a oportunidade de mapear um novo caminho para a empresa, de estabelecer o seu estilo próprio de liderança. E, graças ao sucesso da Apple, os estudantes do estilo Steve Jobs de liderança nunca foram tão numerosos no Vale do Silício. Ele foi idolatrado e emulado muitas vezes enquanto vivo; em sua morte, Jobs se tornará um ícone ainda maior.

Depois de celebrar as conquistas dele, nós deveríamos falar livremente sobre o lado negro de Jobs e da empresa que ele ajudou a fundar. Este é o seu catálogo de piores momentos:

Censura e autoritarismo

A internet permitiu a pessoas do mundo todo se expressarem de maneira mais fácil e livre. Com a App Store, a Apple reverteu este processo. O iPhone e o iPad constituem a mais popular plataforma de computação portátil dos EUA, os mais importantes palcos de mídia e software. Mas você precisa da aprovação da Apple para colocar qualquer coisa nos aparelhos. E este é um poder que a empresa usa agressivamente.

Em nome de proteger as crianças dos malefícios do erotismo, e os adultos deles mesmos, Jobs baniu aplicativos de arte gay, guias de viagens gays, cartoons políticos, imagens sensuais, panfletos de candidatos políticos, caricaturas políticas, páginas duplas de revistas de moda e sistemas inventados pela concorrência, além de outras coisas consideradas moralmente questionáveis.

Os aparelhos da Apple nos conectaram a um mundo de informação, mas eles não permitem uma expressão completa de ideias. De fato, as pessoas que deveriam ser servidas pela Apple — “os desajeitados, os rebeldes, os encrenqueiros”, como disse o famoso comercial — foram particularmente excluídos pelas políticas de Jobs. O fato da empresa mais admirada dos Estados Unidos ter seguido um caminho tão contrário aos ideais de liberdade do país é profundamente preocupante.

Mas Jobs também nunca pareceu muito confortável com a ideia de empregados com todos os seus direitos e uma imprensa completamente livre. Dentro da Apple, há uma cultura de medo e controle ao redor das comunicações; a “Equipe Mundial de Lealdade” da Apple é especializada em caçar quem vaza informações, confiscando celulares e fazendo buscas em computadores alheios.

A Apple usa táticas coercivas também com a imprensa. A sua primeira reação a artigos que ela não gosta é geralmente de manipulação e importúnio. Depois, quem sabe ela solte estrategicamente um artigo contraditório.

Mas a Apple não se contenta com isso. Ela tem uma equipe jurídica que não se importa em aniquilar alvos pequenos. Em 2005, por exemplo, a empresa processou o blogueiro Nick Ciarelli, de 19 anos, por dar antes da hora a notícia — correta — da existência do Mac Mini. O caso não foi encerrado até que Ciarelli concordou em fechar o seu blog ThinkSecret para sempre. E nem vou explicar de novo toda a história com o Gizmodo americano e o protótipo do iPhone 4, que chegou ao ponto da Apple conseguir fazer com que a polícia invadisse a casa de um editor.

Há cerca de um mês tivemos talvez a mais assustadora amostra das tendências fascistas da Apple, quando dois agentes privados de segurança, trabalhando para a Maçã, revistaram a casa de um homem em San Francisco, à procura de um outro protótipo perdido de iPhone. Eles ameaçaram causar problemas com a imigração, e o homem disse que os agentes de segurança estavam acompanhados por policiais à paisana e não se identificaram como civis, dando a impressão de serem oficiais de polícia.

Fábricas exploradoras, trabalho infantil e direitos humanos

As fábricas da Apple na China regularmente empregam jovens adolescentes e pessoas abaixo da idade mínima de trabalho legal, que é de 16 anos. Elas submetem os empregados a muitas horas de trabalho e tentam acobertar tudo. Isso segundo um relatório da própria Apple, em 2010. Em 2011, a Apple relatou que o problema de trabalho infantil piorou.

Em 2010, o jornal Daily Mail conseguiu infiltrar um repórter dentro de uma fábrica chinesa que monta produtos para a Apple. Veja um trecho traduzido da reportagem:

Com o complexo funcionando em capacidade máxima de produção, 24 horas por dia, sete dias por semana, para atingir a demanda global pelos telefones e computadores da Apple, um dia típico começa com o hino chinês sendo tocado pelos alto-falantes, com as palavras ‘Levantem-se, levantem-se, levantem-se, milhões de corações com uma só mente’.

Como parte deste controle Orwelliano, o sistema de comunicados públicos grita anúncios o tempo inteiro, sobre quantos produtos foram feitos, sobre uma nova quadra de basquete construída para os empregados, sobre como os empregados devem ‘valorizar a eficiência a cada minuto, a cada segundo’.

Com outros slogans corporativos pintados nas paredes das oficinas — incluindo apelos como ‘alcance metas até que o sol não mais se levante’ e ‘reunamos toda a elite e a Foxconn será cada vez mais forte’ –, os empregados trabalham até 15 horas diárias.

Ao final de corredores estreitos, que lembram uma prisão, eles dormem em quartos lotados, em beliches triplas para economizar espaço. Os colchões são simples tapetes de bambu.

Apesar das temperaturas no verão chegarem a 35 graus, com 90% de humidade, não há ar condicionado. Alguns trabalhadores dizem que há dormitórios que abrigam mais de 40 pessoas e são infestados com formigas e baratas, e que é difícil dormir por causa do barulho e do fedor.

Uma empresa pode ser julgada pela forma como trata os seus mais humildes empregados. Serve como exemplo para o resto da empresa, ou, no caso da Apple, para o resto do mundo.

Em pessoa e em casa

Antes mesmo de ser afastado da empresa pela primeira vez, Jobs já tinha fama de agir como um tirano. Ele frequentemente diminuía pessoas, esbravejava contra elas e pressionava até que chegassem ao seu ponto de ebulição. Na busca pela excelência, ele deixava de lado a educação e a empatia. Seus abusos verbais nunca pararam. Ainda no mês passado a Fortune reportou uma “humilhação pública” de meia hora a que Jobs submeteu uma equipe da Apple:

“Alguém poderia me dizer o que o MobileMe deveria ser capaz de fazer?” Depois de receber uma resposta satisfatória, ele continuou: “Então por que caralhos ele não faz isso?”

“Vocês mancharam a reputação da Apple”, ele falou. “Vocês deveriam odiar uns aos outros por terem se decepcionado”.

Jobs demitiu o chefe da equipe ali mesmo.

Em seu livro The Second Coming of Steve Jobs, sobre a época de Jobs na NeXT e o seu subsequente retorno à Apple, Alan Deutschman descreveu o tratamento duro que Jobs dava aos seus subordinados:

Ele os elogiava e inspirava, às vezes de maneira muito criativa, mas também apelava para intimidação, provocação, repreensão e depreciação… Quando ele encarnava o Steve do Mal, não parecia se importar com os danos severos que causava a egos e emoções… súbita e inesperadamente, olhava para alguma coisa no qual eles estavam trabalhando e dizia que estava uma “merda”.

Jobs também tinha suas limitações pessoais. Não há registros públicos dele jamais ter feito doações para instituições de caridade, apesar do fato de ter ficado rico com o IPO da Apple em 1980 e ter acumulado um patrimônio líquido estimado em mais de 7 bilhões de dólares ao final da sua vida. Depois de encerrar os programas de filantropia da Apple em 1997, quando voltou à empresa, ele nunca mais os reinstaurou, apesar da empresa ter voltado a nadar em lucros.

É possível que Jobs tenha feito doações anônimas, ou que ele fará uma doação póstuma, mas o fato é que ele jamais abraçou ou encorajou a filantropia de forma parecida com, por exemplo, Bill Gates, que já arrecadou US$ 60 bilhões para caridade e se juntou a Warren Buffet para incentivar outros bilionários a doarem ainda mais.

“Ele claramente não tinha tempo”, foi o que disse o diretor da breve fundação de caridade de Jobs ao New York Times. E parece ser isso mesmo. Jobs não levava uma vida equilibrada. Ele era profissionalmente incansável. Trabalhava por longos períodos e permaneceu CEO da empresa até seis semanas antes da sua morte. Isso resultou em produtos incríveis, apreciados pelo mundo todo. Mas não significa que a sua rotina workaholic seja algo a se imitar.

Houve um tempo em que Jobs lutou contra a ideia de se tornar um homem de família. Ele teve uma filha chamada Lisa fora do casamento, aos 23 anos, e, segundo a Fortune, passou dois anos negando paternidade, chegando a declarar oficialmente que “não poderia ser o pai de Lisa, por ser ‘estéril e infértil’, não tendo, desta forma, capacidade física de procriar”. Jobs finalmente assumiu a paternidade, conheceu e casou com a sua atual viúva, Laurene Powell, e teve mais três filhos. Lisa estudou em Harvard e é hoje uma escritora.

Steve Jobs criou muitos objetos lindos. Ele tornou aparelhos digitais mais elegantes e fáceis de usar. Ele fez a Apple Inc. ganhar muito dinheiro depois que as pessoas já a consideravam morta. Ele sem dúvida servirá como modelo para muitas gerações de empreendedores e líderes de negócios. Se isso é uma coisa boa ou ruim, depende de quão honestamente a sua vida é avaliada.

Via GIZMODO Brasil

Criador genial, empresário comum


Não há a menor possibilidade de se negar as qualidades de Steve Jobs como criador no mundo da tecnologia. Ele foi o principal nome do grupo de jovens empreendedores do Vale do Silício, na Califórnia, que, a partir dos anos 1970, transformaram o computador de um monstrengo gigantesco a um útil aparelho que cada vez mais todos temos em casa e no bolso e sem os quais não conseguimos mais viver. Se eu escrevo este texto em um computador e você o lê em outro, é porque um dia pessoas como Jobs assim o criaram. Se existem os smartphones e tablets, é pela mesma razão.

Ressalte-se que o seu faro para a auto-publicidade era muitíssimo acima da média ao dar poucas entrevistas, se apresentar sempre com o mesmo tipo de roupa e fazer apresentações dos produtos da Apple de maneira midiática. Quase tão importante quanto o produto é a maneira como o público o vai conhecer, é outra lição que ele deixou.

São exatamente por estes motivos que existe uma idolatria generalizada por Steve Jobs, e talvez seja inédito na história da humanidade que a morte de um engenheiro e empresário tenha o mesmo impacto que a de um pop star. E é aí que mora o problema: o técnico Jobs, o criador de softwares e hardwares, era um gênio. O empresário, apenas mais um com as mesmas estratégias nada saudáveis que tantos outros empresários têm.

Mítico nos produtos que criou, o dono da Apple não foi maior que a média na preocupação com a linha de montagem deles. Por Fernando Vives. Foto: AFP

Quem produz os aparelhos que a Apple desenvolve é a fábrica taiwanesa Foxconn, que virou notícia mundial por conta dos altos índices de suicídio entre funcionários no ano passado. Entre janeiro e maio de 2010, 16 empregados da fábrica tiraram a própria vida, a maioria dos quais se atirando do alto da sede da empresa. Como boa parte das fábricas da China e de Taiwan, a Foxxconn, segundo amplamente veiculado pela imprensa, tem uma gestão considerada militarizada, na qual os funcionários da linha de produção trabalham demais e ganham pouco, normalmente em condições aviltantes. A Apple, assim como Dell, Nokia e Sony, que também terceirizam a produção com a Foxxcom, seleciona muito imprudentemente as empresas com as quais trabalha.

“A Apple só faz exatamente o que as outras empresas fazem”, é o argumento mais comum de quem defende a prática da empresa criada por Jobs. É aí que mora o problema: se um sujeito cria produtos de qualidade indiscutível que dominam o mercado, por que não exigir que a confecção de seus produtos seja também feita em alto nível – o que, no caso, seria apenas condições dignas de trabalho?

A genialidade que sobrou a Steve Jobs para criar produtos e utilizar o marketing para alçá-lo a um status cool não parece ter se manifestado na forma de preocupação sobre como esse produto era produzido. A revolução da técnica não virou uma evolução do sistema de produção capitalista do qual tanto tirou proveito. Talvez esta dicotomia de Jobs seja o grande problema do capitalismo atual: fabricar produtos incríveis a um lucro máximo é a prioridade absoluta. Jobs é hoje um sinônimo de quem venceu na vida. Aos não-gênios que apertam parafusos, resta-lhes o suor.


Fernando Vives -
Carta Capital

Morte de Jobs alivia ícone do software livre


Richard Stallman, americano fundador da Free Software Foundation e militante radical, declarou estar aliviado com a morte de Steve Jobs.

“Steve Jobs, o pioneiro em fazer os computadores-prisões parecerem cool, criado para tirar a liberdade dos tolos, morreu. Como o prefeito de Chicago Harold Washington disse uma vez sobre o ex-prefeito corrupto Daley, “Eu não estou feliz que ele está morto, mas estou feliz que ele tenha ido embora.” Ninguém merece ter que morrer – nem Jobs, nem o senhor Bill, nem pessoas culpadas de coisas piores que eles. Mas todos nós merecemos o fim da influência maligna de Jobs na computação das pessoas.

Infelizmente, essa influência continua apesar de sua ausência. Nós só podemos torcer para que os seus sucessores, ao tentar continuar com seu legado, sejam menos efetivos.”

Stallman é pioneiro do software livre. Em meados dos anos 80, ele criou o sistema operacional aberto chamado GNU. Vários de seus softwares, como o editor de texto eMacs, são amplamente usados.

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Steve Jobs, um visionário da inovação


Jobs deu beleza e cor aos computadores. No mundo árido da informática, o empresário Steve Jobs deu cores e beleza aos computadores. Co-fundador da Apple Computer Inc. e do estúdio Pixar, mais tarde comprado pela Disney, Steve Jobs trabalhou na ponta da inovação desde a era do Macintosh, o computador da Apple que na década de 1980 trazia um ambiente bem mais amigável para o usuário que os sistemas operacionais DOS e Windows 3.1 da rival Microsoft, bem como os computadores pessoais de cor bege — as máquinas da Apple eram coloridas.


Nascido em 24 de fevereiro de 1955 em San Francisco (EUA) e criado por pais adotivos, Steve Paul Jobs chegou à fama e ao sucesso empresarial em 1984 quando ajudou a criar e lançar o Macintosh – um computador pessoal com uma interface agradável e diferente do que havia até então, além de um sistema operacional palatável ao consumidor. O começo da década de 1980 marcou, nos Estados Unidos, o advento do computador pessoal e o início da difusão em larga escala da internet.

O Macintosh era um computador que tinha mais recursos gráficos e por isso caiu no gosto dos consumidores.Em 1985, Jobs foi afastado temporariamente da Apple pelo conselho de administração após brigas internas.

Ele fundou outra empresa de informática, a NeXT, e em 1986 comprou da Lucasfilm os estúdios de computação gráfica Pixar, que então começaram sua trajetória de usar recursos digitais nos desenhos animados. O Pixar iniciou uma parceria lucrativa com a Disney, produzindo mais tarde (anos 1990 e 2000) filmes como “Toy Story”, “Monstros SA”, “Procurando Nemo”, “Cars” e vários outros desenhos de qualidade e enredo refinados, que conquistaram crianças e adultos no mundo inteiro.

Jobs voltou à Apple em 1997, após a empresa, então à beira da falência, ter comprado a NeXT. Ele foi trazido como consultor e conseguiu salvar a Apple com o sistema operacional Mac OS, que unia a estabilidade dos sistemas operacionais Unix à plataforma Macintosh.

Mas Jobs inovou não apenas com computadores e desenhos animados: desenvolveu um sistema, o iThunes, que permitiu aos consumidores escutarem músicas em aparelhos portáteis, entre eles o iPod, lançado em 2001 pela Apple. Em 2000, a Apple tinha valor de mercado de US$ 5 bilhões. Em 2009, o valor de mercado da corporação era de US$ 170 bilhões, de acordo com a revista Fortune.

Jobs era considerado arrogante na indústria. “Você é incrivelmente arrogante – você não sabe o que não sabe”, disse Andy Groove, ex-executivo-chefe da Intel, a Jobs durante um jantar em Palo Alto, no Vale do Silício, em 1983. A resposta de Jobs, contou Groove 25 anos depois: “Me ensine. Me diga o que eu preciso saber”. A entrevista de Groove foi dada ao jornalista Michael V. Copeland, da Fortune.

Em 2008, os problemas de saúde de Jobs, que aparentemente datavam de 2006, vieram à tona. O empresário visivelmente perdia peso e isso ficou claro quando dava suas populares palestras. Com os rumores persistentes sobre que doença o empresário sofria, Jobs publicou uma carta à comunidade da Apple em 5 de janeiro de 2009, explicando que pela primeira vez “em uma década” passava o feriado do Natal e Ano Novo junto à esposa e aos quatro filhos. Jobs disse que sofria de um descontrole hormonal, que roubava as proteínas do seu corpo. Especulações publicadas na imprensa dos EUA diziam que ele sofria um câncer de pâncreas e ficaria afastado da Apple durante meses.

Uma matéria do Wall Street Journal de 20 de junho esclareceu um pouco o episódio: segundo o jornal, Jobs sofreu um transplante de fígado no Tennessee em abril. Ele voltou ao trabalho em julho.
No começo de novembro de 2009, a Fortuneelegeu Steve Jobs o executivo-chefe (CEO) da década passada. A publicação destacou em seu site que Jobs desafiou “as piores condições econômicas desde a Grande Depressão e os seus próprios e sérios problemas de saúde”, e “reviveu a Apple”.”Nos últimos dez anos Jobs reordenou “radicalmente e de maneira lucrativa três mercados – o da música, o dos filmes e o dos telefones móveis – e o impacto em sua indústria original, de informática, apenas cresceu”, escreveu a revista.




AGÊNCIA ESTADO

Lula em Paris: imprensa sabuja dá vexame



Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?

Começa assim, acreditem, com esta pergunta indecorosa, a entrevista de Deborah Berlinck, correspondente de "O Globo" em Paris, com Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences- Po, que entregou o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Lula, na tarde desta terça-feira.

Resposta de Descoings:

"O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico (...) O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences- Po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente do diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade".

A entrevista completa de Berlinck com Descoings foi publicada no portal de "O Globo" às 22h56 do dia 22/9. Mas a história completa do vexame que a imprensa nativa sabuja deu estes dias, inconformada por Lula ter sido o primeiro latino-americano a receber este título, que só foi outorgado a 16 personalidades mundiais em 140 anos de história da instituição, foi contada por um jornalista argentino, Martin Granovsky, no jornal Página 12.

Tomei emprestada de Mino Carta a expressão imprensa sabuja porque é a que melhor qualifica o que aconteceu na cobertura do sétimo e mais importante título de Doutor Honoris Causa que Lula recebeu este ano. Sabujo, segundo as definições encontradas no Dicionário Informal, significa servil, bajulador, adulador, baba-ovo, lambe-cu, lambe-botas, capacho.

Sob o título "Escravocratas contra Lula", Granovsky relata o que aconteceu durante uma exposição feita na véspera pelo diretor Richard Descoings para explicar as razões da iniciativa do Science- Po de entregar o título ao ex-presidente brasileiro.

"Naturalmente, para escutar Descoings, foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático (...). Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado(...).

"Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção", foi a pergunta seguinte. O professor sorriu e disse: "Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da História este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais" (...). Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente, não damos lições de moral a outros países.

"Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da ação afirmativa do Sciences Po. Descoings o observou com atenção, antes de responder. "As elites não são apenas escolares ou sociais, disse. "Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro-mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas".

No final do artigo, o jornalista argentino Martin Granovsky escreve para vergonha dos jornalistas brasileiros:

"Em meio a esta discussão, Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados".

Desde que Lula passou o cargo de presidente da República para Dilma Rousseff há nove meses, a nossa grande imprensa tenta jogar um contra o outro e procura detonar a imagem do seu governo, que chegou ao final dos oito anos com índices de aprovação acima de 80%.

Como até agora não conseguiram uma coisa nem outra, tentam apagar Lula do mapa. O melhor exemplo foi dado hoje pelo maior jornal do país, a "Folha de S. Paulo", que não encontrou espaço na sua edição de 74 páginas para publicar uma mísera linha sobre o importante título outorgado a Lula pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Em compensação, encontrou espaço para publicar uma simpática foto de Marina Silva ao lado de Fernando Henrique Cardoso, em importante evento do instituto do mesmo nome, com este texto-legenda:

"AFAGOS - FHC e Marina em debate sobre Código Florestal no instituto do ex-presidente; o tucano creditou ao fascínio que Marina gera o fato de o auditório estar lotado".

Assim como decisões da Justiça, criterios editoriais não se discute, claro.

Enquanto isso, em Paris, segundo relato publicado no portal de "O Globo" pela correspondente Deborah Berlinck, às 16h37, ficamos sabendo que:

"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido com festa no Instituto de Estudos Políticos de Paris - o Sciences- Po _, na França, para receber mais um título de doutor honoris causa, nesta terça-feira. Tratado como uma estrela desde sua entrada na instituição, ele foi cercado por estudantes e, aos gritos, foi saudado. Antes de chegar à sala de homenagem, em um corredor, Lula ouviu, dos franceses, a música de Geraldo Vandré, "para não dizer que eu não falei das flores.

"A sala do instituto onde ocorreu a cerimônia tinha capacidade para 500 pessoas, mas muitos estudantes ficaram do lado de fora. O diretor da universidade, Richard Descoings, abriu a cerimônia explicando que a escolha do ex-presidente tinha sido feita por unanimidade".

Em seu discurso de agradecimento, Lula disse:

"Embora eu tenha sido o único governante do Brasil que não tinha diploma universitário, já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil, e isso possivelmente porque eu quisesse que parte dos filhos dos brasileiros tivesse a oportunidade que eu não tive".

Para certos brasileiros, certamente deve ser duro ouvir estas coisas. É melhor nem ficar sabendo.

José Serra e o submundo


Geraldo Alckmin (PSDB), foi rápido na decisão de mandar cancelar um contrato firmado sem licitação pelo antecessor, José Serra, com uma polêmica empresa de contraespionagem. Mas a agilidade- de Alckmin não aplacou a oposição, que quer o esclarecimento completo do caso. Foram gastos ao menos 2,6 milhões de reais nos últimos três anos com supostas detecções de “intrusões eletrônicas”, embora o serviço pudesse ser feito gratuitamente pela própria inteligência da polícia paulista, pela Polícia Federal ou por meio do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), a partir de denúncias de espionagem. Mas não foi comunicado crime nem pedido nesse sentido, segundo a Secretaria da Segurança Pública.


A Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) contratou a carioca Fence Consultoria, empresa do coronel da reserva Ênio Gomes Fontenelle, ex-chefe de Telecomunicações do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), em 2008. Alckmin mandou romper o contrato na quinta-feira 8, logo após vir à tona uma denúncia sobre o contrato, do deputado estadual Simão Pedro (PT). O parlamentar decidiu recorrer ao Ministério Público (MP) e tenta articular uma CPI na Assembleia Legislativa para que o caso seja investigado. São muitas as dúvidas legais sobre o contrato. Ele não conseguiu respostas sequer sobre os serviços que teriam sido executados pela empresa.


As ligações da Fence com Serra são antigas e notórias: a empresa atendeu o tucano pelo menos entre 1999 e 2002, quando ele foi ministro da Saúde, e acabou citada no caso Lunus, denúncia que tirou Roseana Sarney do páreo eleitoral, em 2002, atribuída pela família Sarney ao ex-governador de São Paulo. E se livrou de um indiciamento por comunicação de falso crime ao informar, em 2006, que ministros do Supremo Tribunal Federal estavam grampeados. Fontenelle disse que não comentará o caso, e reclamou: “O contrato já está rescindido e eu fui o prejudicado”.

A Prodesp também é lacônica em sua justificativa sobre o caso. Sobre os serviços que realmente teriam sido realizados e mesmo acerca dos supostos prejuízos com a interrupção do contrato de maneira abrupta, a companhia limitou-se a repetir os argumentos do contrato: “Tinha como objeto a prestação de serviços técnicos especializados em segurança de comunicações, envolvendo linhas telefônicas em ambientes internos e externos, visando à detecção de intrusões eletrônicas nas instalações da Prodesp”. •

CartaCapital

Dilma Rousseff é capa da revista 'Newsweek'

A presidente Dilma Rousseff é capa da próxima edição da revista 'Newsweek' internacional e da edição nacional americana. É a primeira vez que há destaque em mais edições da publicação para uma capa sobre o Brasil. A revista deve chegar às bancas nesta semana.
Chamada de 'Dilma dinamite', presidente estampa capa da prestigiada revista norte-americana - Reprodução/Newsweek

Chamada de 'Dilma dinamite', presidente estampa capa da prestigiada revista norte-americana
Com o título 'Don't mess with Dilma' (em tradução literal 'Não mexa com a Dilma'), a reportagem principal aborda o governo, a história política e também a vida pessoal da presidente.

A revista cita detalhadamente o crescimento econômico do Brasil e a participação de Dilma nesse processo de mudanças, iniciado com a gestão Lula. O assunto é endossado pela frase do presidente dos EUA, Barack Obama, quando esteve no Rio de Janeiro em março deste ano, dizendo que o Brasil era o país do futuro. Dilma será a primeira mulher a abrir uma Assembleia Geral da ONU, fato descrito como positivo e influente.

Na matéria, a presidente afirma saber do potencial brasileiro e pergunta ao repórter da 'Newsweek' se ele sabe qual é a diferença entre o Brasil e o resto do mundo. A própria Dilma responde dizendo que, em nosso País, os instrumentos de controle políticos existentes são fortes o bastante para combater um crescimento mais lento ou até a estagnação da economia mundial - diferente de outros países. Segundo Dilma, o Brasil pode cortar as taxas de juros porque fez um empréstimo cauteloso e tem um Banco Central rígido.

Na entrevista, Dilma confessa que, quando criança, queria ser bailarina ou bombeira. Para ela, uma menina querer ser presidente é um sinal de progresso. Dima também fala sobre sua passagem pela prisão, época em que fazia parte de um grupo revolucionário político, e que, por conta disso, aprendeu a ter esperança e paciência.

A presidente Dilma Rousseff vai receber o prêmio Woodrow Wilson Public Service Award, na próxima terça-feira, 20, em jantar no Hotel Pierre, em Nova York. A premiação também já foi concedida a Lula, em 2009.

Steve Jobs um gênio do mundo digital



Steve Jobs revolucionou mais a eletrônica digital do que qualquer outro líder setorial na segunda metade do século 20 e começo do século 21. Sua contribuição talvez seja ainda maior do que aquela dada por Henry Ford, um século antes, à indústria automobilística e mecânica em geral.

Na semana passada, Jobs deixou o comando da Apple, por problemas de saúde. Para muitos analistas, ele recriou o Vale do Silício à sua imagem e semelhança. A marca essencial de seu trabalho se apoia na criatividade. A empresa que fundou, aos 21 anos de idade, em companhia de Steve Wozniak, num fundo de quintal em 1976, se transformou em agosto de 2011 na corporação de maior valor do mundo.

Filho adotivo de Paul Jobs, um operador de máquinas, e de Clara Jobs, uma contabilista, de Mount View, na Califórnia, Steve Jobs nasceu em Los Altos, no Vale do Silício, em 24 de fevereiro de 1955.

Terminou o curso colegial em 1972 e chegou a matricular-se numa universidade, o Reed College, de Portland, em Oregon, focada essencialmente em humanidades, cultura geral e artes, famosa por seu rigor acadêmico. Ali experimenta drogas, até LSD, frequenta um templo Hare Krishna e vende garrafas vazias de refrigerantes para comprar comida. Mas Steve abandonou a faculdade depois de apenas um semestre. Foi em 1974 trabalhar na Atari, em Sunnyvale, no Vale do Silício, de onde sai logo para uma viagem à Índia, onde vive algum tempo numa comunidade rural e converte-se ao budismo, que adotou como filosofia de vida, embora se confesse ateu.

Apple I e Apple II. Ao retornar da Índia, em 1975, associa-se ao Homebrew Computer Club, que tinha como presidente Steve Wozniak, do qual se tornara amigo quatro anos antes. Ambos se reúnem para trabalhar no projeto de uma placa lógica de computador, de que resultou o Apple I em 1976.

Wozniak foi, na realidade, o pai do protótipo do primeiro computador pessoal, do qual foram fabricados apenas 500 exemplares e não teve nenhum sucesso comercial. O Apple I já era bem mais do que uma placa de circuitos integrados (a placa lógica), mas não chegava a ser um computador completo, como o conhecemos hoje. Rodava com um sistema operacional Basic, pouco confiável, e não tinha monitor. Mas impressionou engenheiros da HP, quando a dupla Jobs e Wozniak demonstrou seu funcionamento. Por sorte de ambos, a HP decidiu não fabricar o Apple I, como pretendia a dupla.

Para reunir o capital e fundar sua própria empresa, Jobs e Wozniak vendem uma velha Kombi e a calculadora HP 65. Nasce, então, a Apple no final de 1976, quando começam a trabalhar no Apple II, que dará o grande salto não apenas na vida de Steve Jobs, como na da empresa. Com os recursos da venda de 500 computadores Apple I, Wozniak começa a trabalhar no projeto do Apple II - que não será um simples aperfeiçoamento do primeiro, mas um conceito totalmente novo e mais avançado.

A empresa, consolidada em 1977, lança, então o Apple II. O sucesso da nova máquina supera o de todos os concorrentes, Amiga, Commodore, TRS-80 e outros. Milhões de pessoas no mundo descobriram o computador pessoal, usando essa máquina. A empresa passa, então, a crescer rapidamente e faz sua oferta pública de ações em 1980 atraindo só no primeiro dia a impressionante quantia de US$ 1,2 bilhão. Com apenas 25 anos, Jobs já acumula uma fortuna de US$ 239 milhões.

É bom relembrar que um terceiro modelo do Apple, denominado Apple III, foi um fracasso. Ainda bem a que a empresa não abandonou o Apple II.

Em 1981, Steve Jobs assume o cargo de presidente (chairman) da Apple. Em agosto desse mesmo ano, a IBM, embora tenha ridicularizado a ideia de computadores pessoais, lança o primeiro PC.

Lisa decepciona. Steve Jobs lançou com grande entusiasmo um computador ambicioso, o Lisa, em 1983. Durante a apresentação do novo computador, tudo parecia mais avançado. Com mouse e interface gráfica com ícones, o Lisa foi, na verdade, o precursor do Mac. Mas não fez o menor sucesso, até porque seu preço era muito elevado, na faixa de US$ 11 mil.

Nesse mesmo ano, Steve Jobs contrata um executivo famoso da Pepsi Cola, John Sculey, para CEO da Apple.

Macintosh, a revolução. Lançado em 24 de janeiro de 1984, se transformou logo no microcomputador mais revolucionário do mundo, com os ícones tão atraentes de sua interface gráfica e o mouse. Depois dele, a microinformática não foi mais a mesma, em todo o mundo. O grande diferencial do Macintosh resume-se em cinco qualidades essenciais: 1) facilidade de uso (user friendly); 2) estabilidade; 3) maior capacidade de processamento; 4) extraordinária flexibilidade no processamento de imagens e 5) abundância de software para multimídia e aplicações educacionais. Muitos usuários, a princípio, não sentiram muito entusiasmo pelo Mac, pois ele parecia ser apenas uma versão miniaturizada do Lisa. Mas logo mudaram de atitude, diante da contagiante vibração e das informações de Steve Jobs, mostrando que o Mac faria tudo que o Lisa fazia, por menos de um terço de seu preço, graças a três inovações ousadas.

Uma delas era o sistema operacional mais amigável criado até então, baseado em interface gráfica de usuário (Graphic User Interface - GUI), com a simplicidade e a clareza dos ícones. Em segundo lugar, o poder de fogo do primeiro microprocessador de 32 bits para computadores pessoais, o chip Motorola 68000. Por fim, a novidade de maior impacto: o mouse, ou ratinho, recurso incorporado definitivamente nos anos seguintes como peça essencial do computador pessoal.

Curiosamente, nenhuma dessas três inovações havia sido criada pela Apple. Além do chip da Motorola, o Mac utilizava o mouse e a interface gráfica de usuário, recursos que haviam sido desenvolvidos no famoso Centro de Pesquisas da Xerox, em Palo Alto, o Xerox Parc (Palo Alto Research Center).

A trajetória do Macintosh nos últimos 27 anos mostra, acima de tudo, ousadia nas inovações, embora a Apple enfrentando momentos de crise. Mas nenhuma outra linha de computadores pessoais poderia hoje retratar de forma tão completa e precisa a evolução da informática em todo o mundo nas últimas duas décadas. Assim, quando comparamos o primeiro Mac com o modelo G5, lançado em 2003, vemos que a memória de acesso aleatório (Randomic Access Memory - RAM) deu um salto de mais de mil vezes, passando de 256 quilobytes (KB) para 256 megabytes (MB), com a possibilidade de expansão até 8 gigabytes (GB).

Nos modelos sucessores do primeiro Mac, como o Macintosh II, a Apple anunciava com orgulho a elevação da memória RAM do Mac para 512 KB. E, em 1986, a possibilidade de expansão da memória passa para até 4 MB. O clock salta de 8 MHz no primeiro Mac para 16 MHz em 1986.

Além do avanço representado pelo mouse e pelo sistema operacional amigável, o primeiro Mac inovava também na época com o uso de disquetes de 3,5 polegadas, com 400 KB. Com os novos chips Motorola 68030, em 1989 e 1990, o Mac SE/30 se torna o primeiro computador pessoal a oferecer um slot de expansão e disco rígido interno.

Mas a primeira tentativa da Apple de lançar um computador portátil, com o Mac Luggable, por volta de 1990, foi um fracasso total. Ele pesava quase oito quilos e ainda usava os chips 68000, de 8 MHz. Mas em 1991 surgiu a série vitoriosa de portáteis, os Mac 170, com tela monocromática de cristal líquido e já com a designação geral de Powerbooks.

Jobs deixa a Apple. A primeira vez em que Steve Jobs pediu demissão da Apple foi em 1985, numa queda de braço com Sculley, que assume a presidência da empresa. Logo em seguida, Jobs lança a empresa NeXT, baseada em Redwood, na tentativa de criar um microcomputador ainda mais sofisticado do que o Macintosh e que pudesse revolucionar a pesquisa e a educação superior.

Em 1986, Steve Jobs compra a Pixar Animation Studios por US$ 10 milhões do diretor de cinema George Lucas. Dois anos depois, lança o computador NeXT, um cubo preto de 30 centímetros de altura, que custa US$ 10 mil. No ano seguinte, Steve Wozniak também deixa a Apple, embora mantenha até hoje seu vínculo como empregado e receba um salário mensal. Em 1991, Steve Jobs se casa com Laurene Powell, que ele havia conhecido em 1989, quando ela fazia um curso de pós-graduação na Universidade de Stanford.

Toy Story, um sucesso. Em 1995, Jobs lança Toy Story, o primeiro filme da Pixar, distribuído pela Disney, que se torna um imenso sucesso desde o primeiro dia de exibição. Sua fortuna passa, então, de US$ 1 bilhão, com a oferta pública de ações da Pixar.

A volta à Apple. Na metade da década de 1990, a situação econômica da Apple é preocupante. A empresa está sem perspectivas no mercado e corre o risco de entrar em decadência. Sua decisão estratégica e salvadora em 1996 é comprar a NeXT por US$ 400 milhões e recontratar Steve Jobs, como conselheiro.

O então presidente da Apple, Gil Amelio, executivo famoso, ex-presidente da National Semiconductors, é demitido da Apple e Steve Jobs assume o cargo de presidente executivo (CEO) interino, em 1997.

Do iMac ao iPod. Em 1998, a Apple lança o iMac, o computador de venda mais rápida da história. Em 2000, Jobs assume o cargo de presidente permanente da Apple.O lançamento do iPod em 2001 marca o início de uma revolução na indústria da música digital. Embora já existissem diversos modelos de dispositivos tocadores de música digital, o iPod começa a dominar o mercado em menos de um ano, passando a vender mais do que todos os concorrentes juntos.Até um novo modo de comercializar a música na internet e de combater a pirataria foi criado pela Apple, com o lançamento do software de download chamado iTune Music Store, que passou a vender faixas de CDs isoladamente, a US$ 0,99 cada uma.

A saúde abalada. Num e-mail enviado aos empregados da Apple em 2004, Steve Jobs diz que vai ser submetido a uma cirurgia para tratar de um câncer raro, no pâncreas.

Em 2006, Steve Jobs vende a Pixar para a Disney Studios por US$ 7,4 bilhões, trocando ações. Com isso, torna-se o maior acionista da Disney e passa a integrar o conselho dessa empresa, uma das seis maiores de Hollywood.

A explosão do iPhone. Em 2007, o maior lançamento da Apple, até então. A empresa decide entrar no mercado de telefonia celular com o iPhone. Sem teclado, com apenas uma tela sensível ao toque e ícones, o celular se transforma no smartphone de maior sucesso em todo o mundo. Nos últimos quatro anos, a Apple lançou quatro novos modelos do iPhone. Em outubro, deverá chegar o iPhone 5, com o máximo de novidades.

O sucesso do iPhone supera o de todos os demais produtos da Apple. Seu computador Apple II levou quase 15 anos para vender 20 milhões de exemplares, o iPhone 4 vendeu esse mesmo número nos últimos 12 meses.

A saúde de Steve Jobs se agrava em 2009, levando-o a afastar-se por seis meses da Apple, para fazer um transplante de fígado.

O impacto do iPad. Em janeiro de 2010, a Apple revoluciona mais uma vez o mercado de dispositivos móveis, com o lançamento do tablete mais inovador, o iPad. Sua tela de toque, com excelente imagem, consolida a própria ideia de um aparelho capaz de integrar tudo: internet, música, celular, banda larga, livros, jornais e revistas. O sucesso é tão rápido que a Apple se apressa em lançar a segunda geração desse tablet, o iPad 2.

Carta de despedida. No dia 24 de agosto de 2011, Steve Jobs encaminha sua carta de renúncia e despedida da Apple, indicador como seu sucessor, como presidente executivo, Tim Cook.

Eis a carta de Steve Jobs:

"Aos diretores e à comunidade da Apple: Eu sempre disse que se chegasse o dia em que eu não pudesse mais dar conta de minhas obrigações e expectativas como presidente executivo da Apple eu seria o primeiro a dar conhecimento disso a vocês.

Infelizmente, esse dia chegou. Por meio desta carta, eu renuncio ao cargo de presidente executivo da Apple. Eu gostaria de servir, se a diretoria assim concordar, como presidente do conselho, diretor e empregado da Apple.

Tão logo meu sucessor chegue, eu recomendo que seja executado o plano de sucessão e nomeie Tim Cook como CEO da Apple.

Acredito que os dias mais brilhantes e inovadores da Apple estão por vir. Espero ver e contribuir para seu sucesso numa nova função.

Fiz na Apple alguns dos melhores amigos de minha vida, e agradeço a todos pelos muitos anos que pude trabalhar junto com vocês. "

Ethevaldo Siqueira - O Estado de S.Paulo

Plágio no embalo de Eduardo & Mônica

Dizer que o vídeo online da Vivo baseado na ‘música-saga’ Eduardo & Mônica é um dos mais vistos do mundo – com 1,5 milhão de acessos no portal YouTube em apena um dia – atraiu cobiça. Com o vasto mundo da internet à disposição, alguém rapidamente localizou ação bem similar. E, para desgraça da operadora espanhola Vivo e da sua agência de propaganda, a Africa do Grupo ABC, a aplicação anterior tem roteiro idêntico.







A canção consagrada pela banda Legião Urbana na década de 80 foi usada pela operadora de telefonia ATL (Algar Telecom Leste) para vender o telefone celular. A empresa, que atendia no Rio de Janeiro e Espírito Santo foi comprada há seis anos foi pela operadora Claro. O filme, segundo apurações do site de propaganda Propmark, foi criado em 2002 pela então agência Salles D’Arcy, que hoje não existe mais. No filme há cenas de uma casal interagindo em festas e ambientes públicos.

Verdade seja dita, seria injusto comparar em beleza estética o comercial da ATL com o da Vivo produzido pela O2 Filmes. São parecidos. Não há discussão. Mas na versão atual há um convidativo clima à celebração do Dia dos Namorados e, lógico, da eterna busca do amor romântico e duradouro. Una sina da humanidade. A associação com a marca se dá pela assinatura: “O amor nos conecta. A conexão transforma”. Boa sacada. Menos óbvia. Mais elegante.

Como habitual nessas situações de insinuação de plágio, o co-presidente da Africa, Sergio Gordilho, alegou que se trata de “pura coincidência” o uso da mesma música na mesma categoria de serviços. Mas, pode soar como negligência da agência não ter feito uma mera busca na web.



É verdade que há mais quase uma centena de versões da música. A utilizada no filme da Africa é a música na íntegra na voz de Renato Russo. No ATL, parece uma interpretação de uma voz feminina.

Como a comunicação das empresas com seus consumidores envereda cada vez mais pela era do entretenimento, a versão turbinada aprovada pela Vivo não merece o fogo do inferno pela “semelhança” com a da ATL. Porém. E há sempre um porém, fica o alerta: Publicitários não resistam. Os tempos mudaram. Hoje, nada escapa. Então, pesquisem mais. A aposta na sorte pode resultar em saia justa chata de justificar.

ATUALIZAÇÃO: Acabei de receber a seguinte informação: o diretor de arte Humberto Fernandez, que hoje trabalha na agência Africa, trabalhava na agência Sally’s Darcy em 2002, quando o filme da ATL foi feito. Fato que se confirma na ficha do LINKEDin.
Pode ser “pura coincidência”. Mas, fica o registro.

Marili Ribeiro - Estadão

A banda que cabe numa penteadeira


Se você, leitor, ainda não conhece A Banda Mais Bonita da Cidade, aproveite a oportunidade e pare de ler este texto. A ignorância pode ser uma benção. Acredite em mim, e não precisa agradecer.

O bando de músicos universitários se tornou um fenômeno na internet com o clipe Oração, uma música interminável que repete uns versinhos miseráveis até um estágio próximo da lobotomia.

Quer morrer de tédio? Assista:


Primeiro, pensei se tratar de um experimento de hipnose. Mas não. Os caras são chatos mesmo. Sorriem o tempo todo, com aquela cara típica de panacas bem intencionados. Essa juventude está perdida.

Como pode alguém achar que “(no meu coração) cabe uma penteadeira” é poesia? Uma penteadeira! Por que não um sofá, um criado-mudo, uma espiga de milho? Afinal, no coração da rapaziada “cabe o que não cabe na despensa”.

Nem Caetano Veloso ou Djavan conseguiriam atingir tal requinte de sonolência poética. Talvez o Marcelo Camelo, para não ser injusto.

O fato é que dificilmente veremos outra demonstração de vazio artístico como essa. O MEC já deve estar imprimindo algum livro escolar usando essa letra como exemplo de preconceito linguístico.

Não por acaso, o CQC QCAcha Rafinha Bastos gravou uma versão própria, muito superior à original no quesito insuportabilidade (como diria o filólogo Tite, do Corinthians). O cara realmente é insuperável em sua missão de provar que cretinice não tem limite.

Quer realmente morrer de tédio? Assista:


Tudo isso no curto espaço de uma semana. O ócio é uma praga social, pelo visto. Ô gente desocupada! Eu mandava esse povo carpir uma roça.

Mas ajoelhou, tem que rezar. A sabedoria popular também ocupa seu espaço na internet. Rapidamente, veio a resposta, definitiva, colocando cada pateta em seu devido lugar:


Neste blog também cabe uma oração, pra salvar essa geração. Cantar é mais difícil que se pensa. Por essa canção eu pago até uma recompensa. Acabem com essa dor. Acabem com essa música inteira. Guarde-a na penteadeira. Faça-me o favor.

O Provador

10 curiosidades sobre as origens do Firefox


Segundo navegador mais usado do mundo, o Firefox percorreu umas trajetória cheia de reviravoltas e humor.  Os desenvolvedores do browser não são criativos apenas na hora de criar recursos e caçar bugs. Há brincadeiras e histórias engraçadas em tudo que envolve o programa. Reuni dez delas aqui. Dá uma olhada! 
1 - O navegador Mozilla era a versão de código aberto do Netscape, disso você sabe. Mas sabia que a sede da empresa que criou o browser pioneiro ficava em Mountain View, na California, mesma cidade do atual do quartel-general do Google?

2 – Ao instalar o primeiro Mozilla, lançado em 2002, o usuário não ganhava só um navegador. O pacote vinha também com cliente de e-mail, um leitor de notícias e um editor simples de HTML. Quem tem saudades dessa suíte, ainda pode usá-la, graças ao projeto SeaMonkey
3- O primeiro nome do Firefox foi Phoenix, mas uma empresa chamada Phoenix Technologies já havia registrado a marca comercialmente e impediu que a Fundação Mozilla continuasse a usar o nome.
4 – O segundo nome do Firefox foi Firebird, ainda seguindo a ideia representar uma versão renascida do Netscape. O nome, porém, logo foi abortado graças à pressão da comunidade do software livre. Motivo: já havia um projeto aberto de gerenciador banco de dados com o mesmo nome.
5 – Após tantas indas e vindas, a escolha do nome Firefox foi definida pela ausência de empresas de tecnologia que usassem a marca… mas… a pesquisa inicial foi feita apenas nos Estados Unidos. No Reino Unido, a Charlton Company software, já usava a marca Firefox. Desta vez, porém, foi feito um acordo e a Mozilla finalmente conseguiu batizar seu browser de forma definitiva.
6 – Dos tempos do Netscape até hoje, os programadores da Fundação Mozilla mantêm a tradição de incluir frases secretas dentro dos navegadores. No Firefox 2.0, por exemplo, quem digitasse about:mozilla na barra de endereço veria uma página com o provérbio:  “E assim, finalmente a besta caiu e os incrédulos regozijaram-se. Mas nem tudo estava perdido, pois das cinzas subiu um grande pássaro. O pássaro olhou para os incrédulos e lançou fogo  e trovões sobre eles. A besta renasceu com a sua força renovada, e os seguidores de Mamon encolheram, horrorizados”.
7 – A navegação por abas, primeiro e maior diferencial do Firefox frente à concorrência, estreou apenas na versão 2.0 do navegador, lançada em 24 de outubro de 2006, ou seja, quase dois anos após a estreia oficial.
8 – Desde os tempos do Phoenix, os programadores da Fundação Mozilla esbanjam criatividade na hora de escolher os codinomes das versões beta do navegador, já usaram: Pescadero, Santa Cruz, Lucia, Oceano, Naples, Glendale, Indio, Royal Oak, One Tree Hill, Deer Park, Bon Echo, Gran Paradiso, Shiretoko, Namoroka, Lorentz e Tumucumaque.
9 – No início, o Firefox usava um tipo próprio de licença,  a Mozilla Public License (MPL). Por pressão da Free Software Foundation, a Fundação Mozilla passou a usar também a GPL (GNU General Public License), mais aberta e sem limitações de uso do código.
10 – Vale sempre lembrar que o nome Firefox é uma referência a uma espécie de urso e não de raposa. Em português, ele é chamado de Panda Vermelho. Melhor que escrever é mostrar a simpática figura:

FabioREM
Da Info


 NOTA: Apesar do nome, o logotipo do Firefox não representa um panda-vermelho.
Segundo o autor, o animal não passa o conceito apropriado, além de não ser conhecido. (Mozilla Community Website)


Sem fim



Fim de semana perfeito para a civilização ocidental: no sábado, bombardeio à casa de Gaddafi, com presumida e previsível morte de um filho seu e de netos pequenos; no domingo, ataque à casa de Osama Bin Laden, matando-o e a pelo menos uma mulher e um homem não identificados de imediato.
Grandes feitos, mas sem resposta alguma para os impasses e os conflitos em causa. O mistério da morte deixa de estar nos mortos e assume, nos dois casos, a forma de indagações voltadas para o futuro dos vivos e de mais temores no seu presente.
O êxito festejado na morte de Bin Laden foi pela morte em si mesma. Não buscou outro sentido senão o da vingança, não propriamente cristã, pela monstruosidade do maior de seus crimes.
A caçada a Bin Laden estava ciente de que o comando efetivo da Al Qaeda passara a outras cabeças. Em especial à do médico egípcio Al Zawahiri -como lembrou, poucas horas depois da morte de Bin Laden, o embaixador do Brasil no Paquistão, Alfredo Leoni, portador de informações próprias dessas representações oficiais no caldeirão paquistanês. Não era mais ao chefe da Al Qaeda que a caçada buscava, era a Bin Laden em pessoa. Aí, o êxito.
Festejo peculiar: recheado de alertas transmitidos pelo mundo afora, ordens de redobrada vigilância, de prontidões e de acessos fechados, mais tensão e medo.
As esperadas retaliações recairão onde, quando e como? Que modalidade tendem a adotar? E o que ainda pode ser feito para preveni-las? Afinal, a morte de Bin Laden vai servir, ou não, de estímulo a adesões jovens à Al Qaeda, a mais terrorismo? E, o que talvez seja uma interrogação mais pertinente do que aparenta: o que levara Bin Laden a estar, supõe-se que escondido, em meio a um centro militar das Forças Armadas do Paquistão?
As perguntas se multiplicam e as respostas não se oferecem, porque não é ainda o seu tempo. De um modo ou de outro, a maioria de nós vai pagar a espera com mais restrições e constrangimentos, quase sempre produtos de pouca inteligência e muita prepotência. Mais cedo ou mais tarde, tinha de acontecer.
Muitos comentários à morte de Bin Laden consideram encerrar-se nesse fato uma etapa da história internacional. O mais provável é que o encerramento se dê quando haja respostas para as perguntas que ganharam força ou apareceram nos escombros inertes em uma casa na insuposta Abbottabad. Até lá, é a continuidade sem fim perceptível.
Bin Laden e Gaddafi mostraram traços em comum. É natural que deles, em vida ou em morte, se projetem semelhanças nas perguntas que lançam. Gaddafi não está sob ataque por vingança. Antes seria por hipocrisia e ingratidão de muitos dos que até poucos meses o visitavam como amigos ou associados. E com ele negociavam petróleo, gás e, claro, as armas para a Líbia. Bilhões de euros iluminados por orgias italianas, turismo à francesa, cortesias inglesas, além de se prestarem a reservas para as incertezas da existência.
O ataque à morada familiar e suas consequências cegas não são fatos que Gaddafi e seus fiéis, como são vistos, deixem passar sem represália. Qual, onde, contra qual dos atacantes? Não é menos obscuro o efeito que o episódio tenha no confronto líbio, já um atoleiro em que os governantes da Otan enfiaram as botas sem saber, agora, como tirá-las.
Para que não falte uma resposta: o mundo está melhor? Não há quem saiba.

JÂNIO DE FREITAS - Folha de S.Paulo 03/05/2011

Aécio Neves demonstra não ter os atributos do bom orador


O senador Aécio Neves mostrou prestígio ao levar políticos em profusão para ouvi-lo no plenário do Senado, mas não conseguiu produzir o impacto nem o despertar da oposição que a tropa governista parecia esperar, muito menos deu razões ao governo para perder um segundo de seu sereno sono.


Tépido na forma e repetitivo no conteúdo, passando ao largo de questões essenciais para o exercício da oposição como a independência do Legislativo em relação ao Executivo, o discurso acabou proporcionando aos senadores aliados ao Palácio do Planalto uma oportunidade excelente de mostrar vigor e afinação.

Muito diferente das legislaturas anteriores quando, principalmente no primeiro mandato do ex-presidente Lula, a oposição fazia do Senado sua cidadela, ocupando a tribuna tardes a fio em ataques sem que aparecesse um senador para defender o governo.

Ontem à tarde o batalhão estava afiadíssimo: Aécio mal tinha subido à tribuna e a senadora Gleisi Hoffmann, do PT, pediu um aparte, concedido ao final assim como aos demais.

Concluída a fala em que Aécio pontuou sua disposição de se opor sem se confrontar com os adversários, os governistas apresentaram suas armas de defesa dos governos Lula e Dilma Rousseff sem o menor constrangimento de fazer isso em clima de franca confrontação.

Em meio a elogios à "elegância" e ao "equilíbrio" do discurso e sem disfarçar o alívio pela tepidez do opositor, a tropa governista atacou as privatizações, ironizou a tibieza do PSDB em defender o governo FH, acusou várias vezes Aécio de ter sido injusto com a gestão de Lula e, pela voz do senador Jorge Viana, ainda afirmou que o orador simbolizava a oposição que todo governo gostaria de ter.

Da parte dos oposicionistas, exaltações algo exageradas ao "brilhantismo" do pronunciamento "de estadista" e uma evidente avidez por alguém que os represente. E assim, independentemente de Aécio Neves reunir ou não os atributos necessários por avaliação exigente, o senador se apresentou e dessa forma foi recebido por governistas e oposicionistas.

Poucos, entre eles Pedro Taques, Marinor Brito e Demóstenes Torres, consideraram que a confrontação não é necessariamente um mal. Antes pode ser essencial à condução dos trabalhos de questionamentos doutrinários, programáticos, bastante mais inquietantes que a redução de alíquotas de impostos, transferência de gestão de estradas, revisão da Lei das Micro e Pequenas Empresas etc.

Temas importantes, mas nas circunstâncias em que a oposição precisa de mobilização política, liderança vigorosa, energia para recuperar o tempo perdido, encontrar o rumo para poder seguir adiante, o desempenho de Aécio deixou no ar um aroma de anticlímax.

Não por defeito, mas por ausência de um atributo pessoal que poderia ser chamado de borogodó de tribuna. Aécio não tem. Mário Covas tinha.

As saudações superlativas soaram artificiais, traduziram a avidez por um porto seguro onde os oposicionistas possam se agarrar, além de revelarem a amplitude amazônica do deserto de homens e ideias reinante na política nacional.

Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

Homem abre fogo dentro de escola do Rio e mata ao menos 11 crianças


Pelo menos 11 crianças morreram e cerca de 20 pessoas ficaram feridas após um homem efetuar diversos disparos dentro de uma escola em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã desta quinta-feira, 7. Segundo informações da rádio Estadão ESPN, o atirador também morreu ao ser atingido por um disparo. O prefeito da cidade, Eduardo Paes, está no local.

O suspeito chegou à Rua General Bernardino de Matos e invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira disparando contra crianças e funcionários que estavam no local, por volta das 8h. De acordo com a polícia, Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, atirou aleatoriamente contra as pessoas que estavam no colégio de ensino fundamental, direcionando os disparos contra a cabeça das vítimas.

Agentes do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro) faziam uma fiscalização em uma rua próxima a da escola quando uma criança baleada avisou à equipe que havia um atirador dentro da escola. Policiais militares do Batalhão de Polícia Trânsito Rodoviário e Urbano (BPRV), que acompanhavam a ação do Detro, foram até o local e renderam o suspeito, que foi imobilizado com um tiro na perna.

Segundo testemunhas, o atirador só parou de acionar a arma, subindo uma escada, quando policiais chegaram ao local. Ainda conforme informações da Polícia Militar, Oliveira seria ex-aluno da escola e, ao ser baleado, teria se suicidado. O corpo do homem continua dentro do colégio.

Para evitar que outros alunos fossem atingidos, professores trancaram as salas de aula e bloquearam o acesso com cadeiras.

Os feridos estão sendo levados para o Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo. Helicópteros, viaturas do Corpo de Bombeiros e ambulâncias do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) estão no local para ajudar no socorro.

O Relações Pública dos bombeiros, Evandro Bezerra, disse que alguns dos feridos estão em estado grave. "Temos tentado retirar as pessoas o mais rápido o possível para salvar as vítimas deste atentado. Realmente ele atirou contra a cabeça delas, os feridos estão em estado grave. É lamentável", disse.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação do Rio cerca de 400 alunos estudam na escola, de três andares. No período da manhã há 14 turmas que vão do 4º ao 9º ano. As crianças têm entre 9 e 14 anos. A subsecretária Helena Bomeny foi para o local.

Ainda não há informação sobre o que teria motivado o crime.

Notícia atualizada às 10h59 - O Estado de S.Paulo

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