Colunista política da Folha pensa em votar no Uni, Duni, Tê

O estímulo ao debate e à participação política é papel fundamental da imprensa. O “são todos iguais” faz com que as pessoas acreditem que pensar não é preciso.
O esvaziamento do debate político é a mais danosa arma dos poderosos obsessivos. É danosa porque é eficiente, a omissão ilude com mais facilidade que a mentira. Ilude mesmo intelectuais preparados, ilude mesmo os tais “formadores de opinião”, ou sua versão mais moderna, os “multiplicadores”. Uma coluna quinzenal da Folha de S. Paulo que estreou dois domingos atrás se mostrou, nesses dois textos já publicados, um grande engano e um grande desserviço.

Fernanda Torres é atriz, filha de uma das maiores que já nasceram no país, Fernanda Montenegro. Mas Fernanda Torres meteu-se a escrever para a Folha, e sobre política. Sua coluna estreou no dia 1º de agosto em meio a outras novidades que, naquele fim de semana, surgiram na cobertura das eleições pela Folha.

Com um texto impecável, requintado e redondo, Fernanda Torres capricha nas referências, nas idas e vindas das ideias, unindo-as ao final em uma conclusão bem construída. Isso acontece tanto em “Dom Quixote de Ferrari”, sua estreia, quanto em “Uni, Duni, Tê”, publicado na edição do último domingo (15/8). Não fica claro, mas com poucas indicações qualquer um pode perceber rapidamente para que lado vão os textos. O primeiro texto trata de Cristóvão Buarque e Collor, e diz que quem pensa como o primeiro deve adquirir características do segundo, sob pena de não chegar ao poder. A segunda coluna é sobre a forma como a autora diz pensar em escolher em que candidato votar para a presidência.

Os dois primeiros textos da atriz que agora é comentarista política contribuem apenas para a tentativa de esvaziamento da política, o que, por sua vez, contribui apenas para manter o povo alienado e as elites de sempre no poder. “Uni, Duni, Tê” é um texto, publicado no maior jornal do Brasil, cuja autora afirma e argumenta explicando o porquê pensa em definir seu voto na sorte. Essa é a imprensa que precisamos para fortalecer a democracia, para incluir a todos no debate político, o debate que constrói a cada dia, a cada ação, a sociedade que temos?

A imprensa precisa ajudar a construir a democracia. Falar inadvertidamente em liberdade de imprensa é muito fácil, mas não é apenas disso que se faz uma sociedade verdadeiramente democrática. O estímulo ao debate e à participação política é papel fundamental da imprensa. O “são todos iguais” faz com que as pessoas acreditem que pensar não é preciso, e favorece sempre as piores escolhas. Fernanda Torres pode fazer melhor. A Folha, sempre preocupada com a qualidade de sua cobertura política, também.

Por Alexandre Haubrich do Jornalismo B

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