A diferença entre receber votos e mobilizar eleitores – o caso Marina

As pesquisas mostram que o eleitor de Marina está mais para Frankenstein do que para um conjunto harmônico. Uma parte é jovem, estuda na USP e celebra o discurso ambientalista de sua candidata. Desses, muitos se declaram agnósticos ou mesmo ateus. A outra face desse mesmo eleitorado é conservadora, tem baixa renda e baixa escolaridade e optou por Marina não pelo conservacionismo, mas pelo conjunto de dogmas religiosos embutidos na fé evangélica que ela professa.


Marina Silva (PV) teve 19,6 milhões de votos para presidente. É um marco, um fenômeno, um fato inédito – e tantos quantos jargões jornalísticos se queira lhe atribuir. Mas há uma diferença abissal entre os eleitores que a candidata derrotada do PV consegue mobilizar e a votação que recebeu.

Marina permaneceu na faixa de 10% do eleitorado durante quase toda a campanha e a pré-campanha. Só cresceu aos 40 minutos do segundo tempo, graças, principalmente, ao voto de eleitoras evangélicas de baixa renda que desistiram de votar em Dilma Rousseff (PT) ao descobrir sua posição passada (e do seu partido) em favor da legalização do aborto.



As pesquisas mostram que o eleitor de Marina está mais para Frankenstein do que para um conjunto harmônico. Uma parte é jovem, estuda na USP e celebra o discurso ambientalista de sua candidata. Desses, muitos se declaram agnósticos ou mesmo ateus. A outra face desse mesmo eleitorado é conservadora, tem baixa renda e baixa escolaridade e optou por Marina não pelo conservacionismo, mas pelo conjunto de dogmas religiosos embutidos na fé evangélica que ela professa.

Como se comportarão esses dois grupos de eleitores no segundo turno entre Dilma e José Serra (PSDB)? Qual o poder de influência de Marina sobre eles?

As evangélicas que abandonaram a canoa de Dilma dificilmente voltarão ao seu barco, salvo, por assim dizer, um milagre. Seus pastores têm provavelmente mais influência sobre elas do que a candidata do PV.

Em tese, Marina exerceria mais influência sobre o lado Discovery Channel de seu eleitorado. Mas esses são eleitores descontentes com a política tradicional, com a bipolarização entre PT e PSDB e com a organização de cima pra baixo dos grandes partidos brasileiros. Estarão eles dispostos a seguir uma guia na hora de escolher o “menos pior” entre os dois presidenciáveis remanescentes?

Soma-se à fluidez da base de apoio da candidata verde um partido que não se beneficiou em nada da votação de sua representante na corrida presidencial. O PV manteve a mesma representação de irrelevantes 2% das cadeiras da Câmara dos Deputados.

Por esses motivos, é mais razoável imaginar que, como fez até agora nesta eleição, o eleitorado de Marina decida, por diversos mas próprios motivos, em quem votará no segundo turno, sem ficar esperando uma orientação da candidata



Marina deve esperar o eleitor para segui-lo no 2º turno

Candidata derrotada a presidente, a senadora Marina Silva (PV) disse que vai esperar a convenção de seu partido, daqui a duas semanas, para declarar (ou não) seu apoio no segundo turno. Não que seus eleitores estejam esperando pela decisão para escolher em quem vão votar.

É um clássico da política: o líder espera o vento bater e, só então, ruma para onde ele está soprando -de preferência, sugerindo que está à frente do processo. É o que se chama de senso de oportunidade, ou vanguarda do reboque.

Não que haja muito mais o que Marina possa fazer. Grande parte dos votos que recebeu não foram a favor da candidata verde, mas contra os seus adversários. Portanto, só resta ao seu eleitor decidir pelo menos pior aos seus olhos. E isso tem pouco a ver com a recomendação de um político. A escolha, para muitos, é entre o bolso e a consciência.

Cabe a Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) bajular Marina nesta fase. Menos pela eventual declaração de apoio, e mais para não desagradar quem votou na senadora. Uma palavra menos abonadora à antiga adversária agora pode ser entendida como crítica a quem depositou sua confiança nela.

No mais, a convenção do PV para tratar do apoio no segundo turno foi marcada há meses, uma clara demonstração da confiança do partido no êxito de sua candidata.

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