Eleitor é pragmático e dá pouco valor para as acusações eleitoreiras!


A campanha pautada pela mídia


Por Bruno Lima Rocha


Se agosto é o mês do desgosto e este correra em água morna, setembro fez-se presente, reavivando o que antes eu afirmei nesta publicação ser o espírito da UDN em busca de um salvador “mar de lama” a quem acusar. Existente ou não, o estilo lacerdista aflorou e o ex-governador de São Paulo começa a atuar como Serra, vindo com tudo. Meu argumento parte de um fato contumaz. Nesta disputa eleitoral são as empresas jornalísticas que pautam os temas da campanha e não ao revés.

Como o acaso não é o fator determinante na política, exponho algumas dúvidas de fundo quanto aos tempos de produção jornalísticos empregados.



Para mim, o intrigante nestas peças de acusação moral (a localizada na Receita e agora, mais recentemente, na Casa Civil) através de canhões midiáticos, é sua temporalidade. Traduzindo. Ocorrendo o escândalo da quebra de dados sigilosos em abril e setembro de 2009, porque os mesmos se tornam munição de campanha agora? Poderíamos afirmar o fato midiático como “requentado”?

Vejamos o caso dos dados sigilosos.

Se a quebra de sigilo é corriqueira (podendo ser comprados em camelôs do Centro de São Paulo) e sendo atingidos no episódio a quase duas centenas de brasileiros, porque os nomes elencados como “alvos” são os do alto tucanato ou parentes do candidato do PSDB?

Outra possibilidade, digna de um livro-reportagem do genial jornalista argentino Rodolfo Walsh, é supor a manobra inversa. Esta parte da premissa que teria havido a quebra de sigilo intencional por motivos políticos. E, para forjar o argumento de uma estória cobertura, atingem nomes de gente vinculada e anônimos, como possibilidade de manobra diversionista, cobrindo os rastros eleitorais.

A conjectura acima é algo perfeitamente possível e, segundo qualquer manual de inteligência, tal fato é mais que comum. A única evidência é de que os acusados de haver violado os sigilos fiscais são ou foram filiados ao PT. Já os reais mandantes, se é que existe um ou mais coordenadores da ação, estes continuam encobertos.

Não entro no mérito se há ou não critério de relevância da notícia, porque o tema é importante. Assim como tem relevância e impacto a suposição de possibilidades de tráfico de influência a partir de relações familiares por dentro da Casa Civil, sendo esta denúncia matéria de capa de Veja, edição de 11 de setembro de 2010 e com a manchete “O polvo no poder”.

O que coloco em debate é a temporalidade desta pauta.

Qualquer pessoa não leiga em comunicação e política sabe que os enunciados, antes de virem a público, são fruto de larga negociação e relações de força. Que o diga a Operação Castelo de Areia!

Soa no mínimo “curioso” estarem estas pautas em manchetes garrafais justamente no momento em que Dilma apontava para a vitória já em primeiro turno. Também transparece a mesma “curiosidade” o fato da matéria de capa da revista semanal Carta Capital, edição número 613, com o título “Quem bisbilhota quem” não ter tido a mesma repercussão nos telejornais.

Até pode ser alegado que o impacto da revista semanal do grupo Abril no meio do jornalismo profissional é maior do que a publicação de Mino Carta. Mas, prefiro a hipótese de que a proximidade das linhas editoriais e preferências políticas (porque todos nós as temos) seja o critério de definição dos textos de escalada dos noticiários televisivos e das manchetes em mídia impressa e eletrônica.

Concluo com algumas evidências. Ambos os lados têm episódios nebulosos em seus governos e aliados comuns mais do que comprometedores. Diante disso, a gravidade dos fatos perde seu poder de chocar.

Isto se dá por três razões.

Primeiro, porque as campanhas são personalistas, não há instrumento de identificação coletiva que ultrapasse a idéia básica da “turma da fulana” ou “turma do fulano”.

Segundo, boa parte dos fulanos e beltranos que foram governo tanto na Era FHC como agora no final dos oito anos de Lula, assim seguirão sendo, ganhe quem ganhar.

Por fim, o eleitorado se comporta de forma pragmática e, estando superado o índice de rejeição, deixa as reputações e a moral para um segundo plano.

Bruno Lima Rocha é cientista político

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