Imprensa no centro do debate eleitoral

A escalada da radicalização, que colocou a imprensa no centro do debate eleitoral como parte e não apenas testemunha do processo, começou há cerca de quatro semanas, quando as pesquisas mostraram um quadro estabilizado, indicando decisão no primeiro turno, baseada a trilogia de capas do “polvo” da revista Veja e a série de reportagens da Folha para desconstruir a imagem e a campanha da candidata Dilma Rousseff.

do Balaio do Kotscho

Sou de um tempo muito antigo, como vocês sabem, quando a imprensa ainda publicava notícias. No momento em que a própria imprensa vira notícia, como está acontecendo agora na campanha eleitoral, alguma coisa está errada.

“Em evento, Dilma acusa Folha de parcialidade”, destaca a Folha de S. Paulo, em sua primeira página desta terça-feira.

Manchete do site do jornal O Globo abrindo o dia: “Após ataques de Lula, MST e centrais sindicais se juntam contra a imprensa”. Várias entidades do movimento social, informa o jornal carioca, marcaram para quinta-feira, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, um “Ato contra o golpismo midiático”.



Até os quartéis já entraram na roda. Na mesma quinta-feira, no Rio de Janeiro, foi marcado pelo Clube Militar, tradicional reduto das fardas mais reacionárias, um debate sobre “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de expressão”. Jornalistas convidados: os democratas Reinaldo Azevedo, da Veja, e Merval Pereira, de O Globo.

O clima que se vive neste momento decisivo da campanha presidencial de 2010, a apenas 11 dias das eleições, pode ser resumido no convite para o ato de São Paulo:

“Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada”.

A escalada da radicalização, que colocou a imprensa no centro do debate eleitoral como parte e não apenas testemunha do processo, começou há cerca de quatro semanas, quando as pesquisas mostraram um quadro estabilizado, indicando decisão no primeiro turno, baseada a trilogia de capas do “polvo” da revista Veja e a série de reportagens da Folha para desconstruir a imagem e a campanha da candidata Dilma Rousseff.

O auge se deu no último fim de semana, com o discurso do presidente Lula, num comício em Campinas, em que ele fez seu mais violento ataque à grande imprensa nesta campanha.

“Nós somos a opinião pública (…) Não vamos derrotar apenas nossos adversários tucanos. Vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partido político e não têm coragem de dizer que são um partido político”.

Na segunda-feira, no Rio, a própria candidata Dilma, acusada pelo jornal de favorecer uma empresa em 1994, também perdeu a paciência com a Folha e partiu para o ataque :

“Eu queria fazer um protesto veemente contra a parcialidade do jornal Folha de S. Paulo. Eu fui julgada pelo Tribunal de Contas do Estado e todas as minhas contas foram aprovadas (…) A matéria é parcial e de má fé!”, acusou ela, de dedo em riste, em seu primeiro desabafo na campanha.

Curioso é que, enquanto subia a temperatura no confronto entre o PT e a imprensa, o candidato tucano José Serra se afastava do tiroteio, preferindo apresentar novas promessas ao eleitorado a cada dia. A mais recente foi oferecer o 13º aos beneficiários do Bolsa Família.

Serra já tinha prometido dobrar este benefício e elevar o salário mínimo para R$600, além de asfaltar a Transamazônica e construir 400 quilômetros de metrô. Como ninguém da imprensa lhe indagou de onde virão os recursos, caso seja eleito, o candidato parece ter gostado da nova estratégia.

Melhor assim. O clima de beligerância dos últimos dias não contribui para melhorar a nossa democracia nem as nossas vidas. Está na hora de todo mundo baixar a bola e deixar o eleitor decidir com tranquilidade o que ele quer para o futuro do país.


Íntegra da matéria da Folha, 21/09/2010

Dilma ataca a Folha e nega favorecimento

Candidata acusa jornal de "parcialidade" e de omitir que suas contas foram aprovadas; informação estava no texto
Petista disse que TCE do RS aprovou contratação de empresa por tomada de preços e afirmou que reportagem é de "má-fé

Eduardo Naddar/ Agência "O Dia"

Em São Gonçalo, ao lado de Sérgio Cabral (PMDB), Dilma Rousseff dá entrevista em que criticou reportagem da Folha
 
FÁBIA PRATES
DO RIO


A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, acusou ontem a Folha de "parcialidade" por conta de reportagem sobre irregularidades apontadas por auditorias feitas pelo Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, entre 1991 e 2002, em suas contas na Secretaria de Minas e Energia e na Fundação de Economia e Estatística do Estado.
Ela negou que tenha havido favorecimento na contratação da empresa Meta Instituto de Pesquisa para realizar a listagem de domicílios, como apontou uma das auditorias, e acusou o jornal de não registrar que suas contas foram aprovadas.
Diferentemente do que ela disse, esta informação consta do texto principal, do "Outro Lado" e do infográfico que ilustrou a reportagem.
"Eu queria fazer um protesto veemente contra a parcialidade do jornal "Folha de S.Paulo". Eu fui julgada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e todas as minhas contas foram aprovadas. Essa informação, extremamente relevante, não está na matéria", disse a candidata.
O ataque à Folha, de 3min34s, foi feito em São Gonçalo (RJ), durante evento com o governador Sérgio Cabral e candidatos aliados.

"MÁ-FÉ"

"A matéria chega ao ponto de me acusar de eu ter feito um contrato em 1994 e depois a empresa ter feito um contrato em 2009. É a única acusação de futuro que eu já vi na vida. Que história é essa? A matéria é parcial e de má fé", prosseguiu Dilma.
A Meta tem hoje um contrato com a Secretaria de Comunicação da Presidência, no valor de R$ 5 milhões.
Dilma disse que publicaria em seu blog parecer do TCE com a aprovação das contas.

CRÍTICAS A SERRA

A candidata petista reagiu à acusação do adversário José Serra (PSDB) de que é "incompetente ou "cúmplice" por dizer não saber de supostas irregularidades na Casa Civil quando era ministra.
"Nem uma coisa nem outra. Sabe por quê? Eu não acredito que alguém saiba tudo o que acontece na sua própria família e também não acredito que alguém saiba tudo o que acontece no governo dele", disse.
Ela contra-atacou: "Além do que, o presidente da Dersa, que ele [Serra] nomeou, pelo menos vocês noticiaram isso, sumiu com R$ 4 milhões da campanha dele", afirmou.
Reportagem de 18 de agosto da revista "IstoÉ" afirma que dirigentes tucanos teriam responsabilizado Paulo Vieira de Souza, ex-diretor de Engenharia da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) por desvio de R$ 4 milhões da campanha tucana.





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