Marina Silva


 A campanha de Serra (...), acabou. O candidato está inteiramente descompensado (abandonou entrevista no meio, resolveu comprar briga com, acreditem, o Érico Veríssimo), a campanha está inteiramente na mão da imprensa aliada, os aliados estaduais já estão cuidando das próprias vidas. Sua única chance seria Marina forçar um segundo turno.

Do blog Na Prática a Teoria é Outra

As pesquisas indicam que Marina Silva subiu um pouco. Marina conseguiu a façanha de manter os 10% até o final, o que nunca achei que faria. Se subir vários pontos para o lado da Dilma, pode forçar segundo turno (mais sobre isso em um instante), se subir mais para o lado do Serra pode mandar o PSDB para um terceiro lugar algo vergonhoso. Se passar o Serra, em tese, tem chances de ir para o segundo turno, mas para isso o crescimento teria que ser quase todo em cima da Dilma.


Nada disso é provável. Admito que nunca achei que Marina seguraria os 10%, mas, já que segurou, até uns quinze dias atrás, se Serra começasse a cair, Marina poderia, perfeitamente, ter virado a alternativa oposicionista. Como eu disse lá no começo do ano, Marina depende de um dos dois candidatos colapsar. O ideal para ela, é óbvio, seria Dilma ter colapsado, porque, se virasse alternativa para os governistas, levando ainda esses dez por certo dela, não tinha nem para o começo. Mas Serra colapsando também serviria para

Marina, ao menos para chegar ao segundo turno.
No segundo turno contra Dilma, sua vida seria difícil. O PSDB certamente lhe declararia apoio, mas muita gente na oposição não acompanharia. A turma do agronegócio vai votar na Marina? Não vai. Quem viu a eleição do Gabeira aqui no Rio em 2008 sabe que havia limites claros para quanto do eleitorado de direita topava os verdes.  A nova classe média do Lula não migraria para Marina de jeito nenhum, mas Marina talvez levasse votos junto aos universitários, e outros setores mais preocupados com a questão da ecologia, ou da corrupção. Eu não colocaria a possibilidade de Marina vencer acima de 10%, mas ela existiria.

Há um exemplo que deve assustar Marina. Gabeira, que quase, quase se elegeu prefeito do Rio dois anos atrás, está firme na disputa para segundo colocado menos votado nas eleições para governador (apesar de estar fazendo uma campanha digna). O problema é que deixou de ser um candidato “terceira via” assim que se aliou ao DEM, e, com isso, perdeu os votos dos petistas que sempre o apoiaram, como eu. Nenhum dos petistas que eu conheço que fizeram campanha para o Gabeira em 2008 vai votar nele esse ano.

Mas isso não é tudo: até agora, não vi um único cartaz do César Maia (e tem muito cartaz do César Maia) que tenha a foto do Gabeira. O Gabeira perdeu votos à esquerda, não ganhou nenhum à direita, foi esquecido pelo DEM, e perdeu uma eleição facílima para o Senado (que o César Maia vai acabar perdendo, também): todos os petistas do Rio estão desesperados para escolher o segundo voto para o Senado. Se houvesse a alternativa Gabeira, a chapa Lindberg/Gabeira se elegeria facilmente.
Isto é: Marina tem que saber que, se for para a direita (isto é, se deixar de ser terceira via), perde muita gente por aqui, mas não ganha tanta gente assim por lá. Vai ter que dar prova de saber manobrar muito, muito bem.

Por outro lado, conheço gente na esquerda que gostaria de ver um segundo turno com Marina para forçar um governo Dilma a assumir um compromisso maior com a ecologia, ou com o combate à corrupção. Dito assim, parece bom, mas é preciso ter em mente o exemplo das recentes eleições britânicas: o pessoal de esquerda que votou nos LibDems acabou ficando com um governo de direita (porque os LibDems fecharam com os Tories, como o PV poderia, eventualmente, fechar com o PSDB), o que eu não sei se era o que eles queriam.

Mas a maior dificuldade de Marina é justamente o que, nos últimos dias, lhe deu alguns votos. A Veja assumiu o leme da campanha oposicionista, uma jogada sempre perigosa (hoje os republicanos lamentam terem deixado a liderança do partido para a Fox News), e transformou o debate nas últimas semanas em um festival de acusações. O efeito eleitoral até agora foi só derrubar um pouco (bem pouco) Serra, em benefício de Marina.

Mas isso também tem o efeito de polarizar o processo: o noticiário agora é só tucanos acusando e petistas se defendendo. Não por acaso, tanto Plínio quanto Marina já manifestaram sua preocupação com a politização das denúncias, que excluíram qualquer outra chance de debate e exposição para algum terceiro candidato que poderia eventualmente jogar com o desgaste das duas partes em conflito.

A campanha de Serra, na minha opinião, acabou. O candidato está inteiramente descompensado (abandonou entrevista no meio, resolveu comprar briga com, acreditem, o Érico Veríssimo), a campanha está inteiramente na mão da imprensa aliada, os aliados estaduais já estão cuidando das próprias vidas. Sua única chance seria Marina forçar um segundo turno.

Não é provável que aconteça, se acontecer, não é provável que Marina o apóie, e se apoiar, não é provável que dê certo para nenhum dos dois. Mas, se Marina não conseguir fazer alguma coisa a despeito da incompetência da direita, fechou.
Ainda mais porque, como veremos no próximo post, eu não acho que o que a Veja está fazendo campanha para ganhar, exatamente. Ela está fazendo outra coisa.

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