Ex-guerrilheira caminha para ser uma das mulheres mais poderosas do mundo

O jornal The Independent destacou neste domingo que o Brasil se prepara para eleger no próximo final de semana a "mulher mais poderosa do mundo" e "uma líder extraordinária". As pesquisas mostram que ela construiu uma posição inexpugnável – de mais de 50%, comparado com menos de 30% - sobre o seu rival mais próximo, homem enfadonho de centro, chamado José Serra. Jornal também afirma que candidata tem sofrido ataques em uma campanha impiedosa de degradação patrocinada pela mídia brasileira.

The Independent

A mulher mais poderosa do mundo começará a andar com as próprias pernas no próximo fim de semana. Forte e vigorosa aos 63 anos, essa ex-líder da resistência a uma ditadura militar (que a torturou) se prepara para conquistar o seu lugar como Presidente do Brasil.

Como chefe de estado, a Presidente Dilma Rousseff irá se tornar mais poderosa que a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel e que a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton: seu país enorme de 200 milhões de pessoas está comemorando seu novo tesouro petrolífero. A taxa de crescimento do Brasil, rivalizando com a China, é algo que a Europa e Washington podem apenas invejar.


Sua ampla vitória prevista para a próxima eleição presidencial será comemorada com encantamento por milhões. Marca a demolição final do “estado de segurança nacional”, um arranjo que os governos conservadores, nos EUA e na Europa uma vez tomaram como seu melhor artifício para limitar a democracia e a reforma. Ele sustenta um status quo corrompido que mantém a imensa maioria na pobreza na América Latina, enquanto favorece seus amigos ricos.

A senhora Rousseff, a filha de um imigrante búlgaro no Brasil e de sua esposa, professora primária, foi beneficiada por ser, de fato, a primeira ministra do imensamente popular Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-líder sindical. Mas com uma história de determinação e sucesso (que inclui ter se curado de um câncer linfático), essa companheira, mãe e avó será mulher por si mesma. As pesquisas mostram que ela construiu uma posição inexpugnável – de mais de 50%, comparado com menos de 30% - sobre o seu rival mais próximo, homem enfadonho de centro, chamado José Serra. Há pouca dúvida de que ela estará instalada no Palácio Presidencial Alvorada de Brasília, em janeiro.

Assim como o Presidente Jose Mujica do Uruguai, vizinho do Brasil, a senhora Rousseff não se constrange com um passado numa guerrilha urbana, que incluiu o combate a generais e um tempo na cadeia como prisioneira política.

Quando menina, na provinciana cidade de Belo Horizonte, ela diz que sonhava respectivamente em se tornar bailarina, bombeira e uma artista de trapézio. As freiras de sua escola levavam suas turmas para as áreas pobres para mostrá-las a grande desigualdade entre a minoria de classe média e a vasta maioria de pobres. Ela lembra que quando um menino pobre de olhos tristes chegou à porta da casa de sua família ela rasgou uma nota de dinheiro pela metade e dividiu com ele, sem saber que metade de uma nota não tinha valor.

Seu pai, Pedro, morreu quando ela tinha 14 anos, mas a essas alturas ele já tinha apresentado a Dilma os romances de Zola e Dostoiévski. Depois disso, ela e seus irmãos tiveram de batalhar duro com sua mãe para alcançar seus objetivos. Aos 16 anos ela estava na POLOP (Política Operária), um grupo organizado por fora do tradicional Partido Comunista Brasileiro que buscava trazer o socialismo para quem pouco sabia a seu respeito.

Os generais tomaram o poder em 1964 e instauraram um reino de terror para defender o que chamaram “segurança nacional”. Ela se juntou aos grupos radicais secretos que não viam nada de errado em pegar em armas para combater um regime militar ilegítimo. Além de agradarem aos ricos e esmagar sindicatos e classes baixas, os generais censuraram a imprensa, proibindo editores de deixarem espaços vazios nos jornais para mostrar onde as notícias tinham sido suprimidas.

A senhora Rousseff terminou na clandestina VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Nos anos 60 e 70, os membros dessas organizações sequestravam diplomatas estrangeiros para resgatar prisioneiros: um embaixador dos EUA foi trocado por uma dúzia de prisioneiros políticos; um embaixador alemão foi trocado por 40 militantes; um representante suíço, trocado por 70. Eles também balearam torturadores especialistas estrangeiros enviados para treinar os esquadrões da morte dos generais. Embora diga que nunca usou armas, ela chegou a ser capturada e torturada pela polícia secreta na equivalente brasileira de Abu Ghraib, o presídio Tiradentes, em São Paulo. Ela recebeu uma sentença de 25 meses por “subversão” e foi libertada depois de três anos. Hoje ela confessa abertamente ter “querido mudar o mundo”.

Em 1973 ela se mudou para o próspero estado do sul, o Rio Grande do Sul, onde seu segundo marido, um advogado, estava terminando de cumprir sua pena como prisioneiro político (seu primeiro casamento com um jovem militante de esquerda, Claudio Galeno, não sobreviveu às tensões de duas pessoas na correria, em cidades diferentes). Ela voltou à universidade, começou a trabalhar para o governo do estado em 1975, e teve uma filha, Paula.

Em 1986 ela foi nomeada secretária de finanças da cidade de Porto Alegre, a capital do estado, onde seus talentos políticos começaram a florescer. Os anos 1990 foram anos de bons ventos para ela. Em 1993 ela foi nomeada secretária de minas e energia do estado, e impulsionou amplamente o aumento da produção de energia, assegurando que o estado enfrentasse o racionamento de energia de que o resto do país padeceu.

Ela tinha mil quilômetros de novas linhas de energia elétrica, novas barragens e estações de energia térmica construídas, enquanto persuadia os cidadãos a desligarem as luzes sempre que pudessem. Sua estrela política começou a brilhar muito. Mas em 1994, depois de 24 anos juntos, ela se separou do Senhor Araújo, aparentemente de maneira amigável. Ao mesmo tempo ela se voltou à vida acadêmica e política, mas sua tentativa de concluir o doutorado em ciências sociais fracassou em 1998.

Em 2000 ela adquiriu seu espaço com Lula e seu Partido dos Trabalhadores, que se volta sucessivamente para a combinação de crescimento econômico com o ataque à pobreza. Os dois se deram bem imediatamente e ela se tornou sua primeira ministra de energia em 2003. Dois anos depois ele a tornou chefe da casa civil e desde então passou a apostar nela para a sua sucessão. Ela estava ao lado de Lula quando o Brasil encontrou uma vasta camada de petróleo, ajudando o líder que muitos da mídia européia e estadunidense denunciaram uma década atrás como um militante da extrema esquerda a retirar 24 milhões de brasileiros da pobreza. Lula estava com ela em abril do ano passado quando foi diagnosticada com um câncer linfático, uma condição declarada sob controle há um ano. Denúncias recentes de irregularidades financeiras entre membros de sua equipe quando estava no governo não parecem ter abalado a popularidade da candidata.

A Senhora Rousseff provavelmente convidará o Presidente Mujica do Uruguai para sua posse no Ano Novo. O Presidente Evo Morales, da Bolívia, o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela e o Presidente Lugo, do Paraguai – outros líderes bem sucedidos da América do Sul que, como ela, têm sofrido ataques de campanhas impiedosas de degradação na mídia ocidental – certamente também estarão lá. Será uma celebração da decência política – e do feminismo.





The world’s most powerful woman will start coming into her own next weekend. Stocky and forceful at 63, this former leader of the resistance to a Western-backed military dictatorship (which tortured her) is preparing to take her place as President of Brazil.


As head of state, president Dilma Rousseff would outrank Angela Merkel, Germany’s Chancellor, and Hillary Clinton, the US Secretary of State: her enormous country of 200 million people is revelling in its new oil wealth. Brazil’s growth rate, rivalling China’s, is one that Europe and Washington can only envy.


Her widely predicted victory in next Sunday’s presidential poll will be greeted with delight by millions. It marks the final demolition of the “national security state”, an arrangement that conservative governments in the US and Europe once regarded as their best artifice for limiting democracy and reform. It maintained a rotten status quo that kept a vast majority in poverty in Latin America while favouring their rich friends.


Ms Rousseff, the daughter of a Bulgarian immigrant to Brazil and his schoolteacher wife, has benefited from being, in effect, the prime minister of the immensely popular President Luiz Inacio Lula da Silva, the former union leader. But, with a record of determination and success (which includes appearing to have conquered lymphatic cancer), this wife, mother and grandmother will be her own woman. The polls say she has built up an unassailable lead – of more than 50 per cent compared with less than 30 per cent – over her nearest rival, an uninspiring man of the centre called Jose Serra. Few doubt that she will be installed in the Alvorada presidential palace in Brasilia in January.


Like President Jose Mujica of Uruguay, Brazil’s neighbour, Ms Rousseff is unashamed of a past as an urban guerrilla which included battling the generals and spending time in jail as a political prisoner. As a little girl growing up in the provincial city of Belo Horizonte, she says she dreamed successively of becoming a ballerina, a firefighter and a trapeze artist. The nuns at her school took her class to the city’s poor area to show them the vast gaps between the middle-class minority and the vast majority of the poor. She remembers that when a young beggar with sad eyes came to her family’s door she tore a currency note in half to share with him, not knowing that half a banknote had no value.


Her father, Pedro, died when she was 14, but by then he had introduced her to the novels of Zola and Dostoevski. After that, she and her siblings had to work hard with their mother to make ends meet. By 16 she was in POLOP (Workers’ Politics), a group outside the traditional Brazilian Communist Party that sought to bring socialism to those who knew little about it.


The generals seized power in 1964 and decreed a reign of terror to defend what they called “national security”. She joined secretive radical groups that saw nothing wrong with taking up arms against an illegitimate military regime. Besides cosseting the rich and crushing trade unions and the underclass, the generals censored the press, forbidding editors from leaving gaps in newspapers to show where news had been suppressed.


Ms Rousseff ended up in the clandestine VAR-Palmares (Palmares Armed Revolutionary Vanguard). In the 1960s and 1970s, members of such organisations seized foreign diplomats for ransom: a US ambassador was swapped for a dozen political prisoners; a German ambassador was exchanged for 40 militants; a Swiss envoy swapped for 70. They also shot foreign torture experts sent to train the generals’ death squads. Though she says she never used weapons, she was eventually rounded up and tortured by the secret police in Brazil’s equivalent to Abu Ghraib, the Tiradentes prison in Sao Paulo. She was given a 25-month sentence for “subversion” and freed after three years. Today she openly confesses to having “wanted to change the world”.


In 1973 she moved to the prosperous southern state of Rio Grande do Sul, where her second husband, Carlos Araujo, a lawyer, was finishing a four-year term as a political prisoner (her first marriage with a young left-winger, Claudio Galeno, had not survived the strains of two people being on the run in different cities). She went back to university, started working for the state government in 1975, and had a daughter, Paula.


In 1986, she was named finance chief of Porto Alegre, the state capital, where her political talents began to blossom. Yet the 1990s were bitter-sweet years for her. In 1993 she was named secretary of energy for the state, and pulled off the coup of vastly increasing power production, ensuring the state was spared the power cuts that plagued the rest of the country.


She had 1,000km of new electric power lines, new dams and thermal power stations built while persuading citizens to switch off the lights whenever they could. Her political star started shining brightly. But in 1994, after 24 years together, she separated from Mr Araujo, though apparently on good terms. At the same time she was torn between academic life and politics, but her attempt to gain a doctorate in social sciences failed in 1998.


In 2000 she threw her lot in with Lula and his Partido dos Trabalhadores, or Workers’ Party which set its sights successfully on combining economic growth with an attack on poverty. The two immediately hit it off and she became his first energy minister in 2003. Two years later he made her his chief of staff and has since backed her as his successor. She has been by his side as Brazil has found vast new offshore oil deposits, aiding a leader whom many in the European and US media were denouncing a decade ago as a extreme left-wing wrecker to pull 24 million Brazilians out of poverty. Lula stood by her in April last year as she was diagnosed with lymphatic cancer, a condition that was declared under control a year ago. Recent reports of financial irregularities among her staff do not seem to have damaged her popularity.


Ms Rousseff is likely to invite President Mujica of Uruguay to her inauguration in the New Year. President Evo Morales of Bolivia, President Hugo Chavez of Venezuela and President Fernando Lugo of Paraguay – other successful South American leaders who have, like her, weathered merciless campaigns of denigration in the Western media – are also sure to be there. It will be a celebration of political decency – and feminism.


Female representation: A woman’s place… is in the government


In recent years, female political representation has undergone significant growth, with dramatic changes occurring in unexpected corners of the globe. In some countries women are dominating cabinets and even parliamentary chambers. By comparison, the UK falls far behind, with only 22 per cent of seats in the Commons currently held by women.


Bolivia In the Bolivian cabinet, 10 men are now matched by 10 women. In 2009, women won 25 per cent of seats in the lower chamber, and 47 per cent in the upper chamber.


Costa Rica In 2010, women won 39 per cent of seats in the lower chamber.


Argentina In 2009, women won 39 per cent of seats in the lower chamber and 47 per cent in the upper chamber.


Cuba In 2009, women won 41 per cent of seats in the lower chamber.


Rwanda In 2009, women won 56 per cent of seats in the lower chamber and 35 per cent in the upper chamber.


Mozambique In 2009, women won 39 per cent of seats in the lower chamber.


Angola In 2009, women won 38 per cent of seats in the lower chamber.


Switzerland Has a female-dominated cabinet for the first time. In 2007, women won 29 per cent of seats in the lower chamber.


Germany In 2009, the cabinet had six women and 10 men. That year, women won 33 per cent of lower chamber seats.


Spain Nine women compared with eight men in cabinet. In 2008, women won 37 per cent of seats in the lower chamber.


Norway Equal numbers of men and women in the cabinet. Women won 40 per cent of seats in the lower chamber.


Denmark Nine women and 10 men in cabinet. In 2007, women won 23 per cent of seats in the lower chamber.


Netherlands Three women and nine men in cabinet. In 2010, women won 41 per cent of seats in the lower chamber.


Charlotte Sewell

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