Quem é Eduardo Jorge, o tucano que só fala em "sigilo fiscal"

Virou uma obsessão na vida do tucano Eduardo Jorge Caldas Pereira a questão de seus sigilos. A toda hora o sujeito aparece reclamando que alguém violou seus sigilos fiscal e bancário. Agora, ele inventou que andaram bisbilhotando o tamanho de sua fortuna também no Banco do Brasil. Alguém que tem tanto medo de ter seus dados revelados só pode ter motivos inconfessáveis para isso.


Não é preciso ir muito longe para saber quais são. Uma simples pesquisa no Google ajuda a revelar quem é e o que fez Eduardo Jorge. E as notícias não são nada honrosas para o emplumado tucano.

Veja abaixo o que diz a revista Veja --isso mesmo, a "insuspeita" revista da direita paulista-- sobre as "atividades" de Eduardo Jorge:



Edição 1 658 - 19/7/2000
Sérgio Lima/Folha Imagem/Ricardo Stuckert

– O senhor acha que ele pode estar usando seu nome para facilitar negócios, presidente?
– Não tenho provas, mas não tenho dúvidas.

Diálogo de Fernando Henrique e um ministro sobre Eduardo Jorge


Alexandre Secco e Daniela Pinheiro

Brasília mergulhou na semana passada numa crise política criada por um motivo errado mas com um personagem certo, o ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira.
O motivo errado: a tempestade em torno das suspeitas de que, em 1996, o Planalto teria facilitado a liberação de verbas para a obra superfaturada do prédio do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. A construção recebeu 231 milhões de reais, dos quais 169 milhões foram desviados. A denúncia sugeria que o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso teria usado o cargo para dar dinheiro público a uma quadrilha especializada em desviar dinheiro público. Como se veria, os indícios de que isso teria ocorrido não se sustentam. A participação provada de Fernando Henrique no processo se resumiu a enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei com um pedido de suplementação de 25 milhões de reais em favor da obra. Antes de qualquer outra consideração, é preciso lembrar que na época do pedido, meados de 1996, a obra era tida como regular. Seu responsável, o juiz Nicolau dos Santos Neto, que mais tarde se revelaria o notório Lau-Lau, tinha reputação de magistrado correto. O Ministério Público só abriria inquérito para apurar irregularidades naquela construção no ano seguinte. E apenas em 1998, dois anos depois, portanto, o prédio do TRT seria incluído pelo Tribunal de Contas da União na lista de obras públicas suspeitas de irregularidades para as quais a liberação de verbas estaria condicionada à solução dos problemas.


Otávio Magalhães/AE
O condomínio de luxo Praia Guinle, no Rio, onde está o apartamento de quatro suítes avaliado em 1 milhão de reais: para completar o dinheiro, o ex-assessor de FHC Eduardo Jorge pegou um empréstimo de 300 000 reais com o BancoCidade, que tem apenas 8 000 pessoas físicas em sua carteira de clientes


Desta vez, o próprio Palácio do Planalto deu sua contribuição para que a confusão ganhasse corpo. Divulgou-se uma explicação apressada e bizarra. "Não cabe ao presidente da República ler o que assina, a responsabilidade é do ministro que leva ao gabinete a pasta de despachos", informou um assessor. Feita para defender FHC, a frase foi lida quase como uma confissão de culpa. Afinal, a equipe de comunicação do governo apresentava o presidente como um nefelibata pronto a assinar documentos cujo teor desconhece. A resposta produziu ainda outro efeito negativo para Fernando Henrique. Ao dizerem que ele desconhecia o teor do papel que levou sua assinatura, os assessores atiçaram a suspeita de que haveria irregularidades no documento. Ou seja, caso o presidente conhecesse seu conteúdo, teria tomado a atitude correta de atirar o documento ao lixo. Na verdade, o documento era inócuo. Tratava-se de um projeto de lei que, para ter vida, precisaria ser aprovado pelo Congresso.
O caso do prédio do TRT ganhou fôlego na quinta-feira, com a publicação pela revista IstoÉ do conteúdo de uma fita com uma entrevista atribuída ao juiz Nicolau dos Santos Neto. Nela, uma voz descreve como conseguia liberar verbas oficiais: com a ajuda de altos funcionários do governo, em especial de Eduardo Jorge, ex-secretário-geral da Presidência, e do hoje ministro Martus Tavares, do Planejamento. Os trechos divulgados não fazem uma única referência a corrupção ou irregularidades, mas azedaram ainda mais o clima. A crise parecia destinada a assumir proporções de catástrofe quando começou a se dissipar por força das próprias inconsistências. Logo se soube que o projeto com o pedido de suplementação de verba enviado ao Congresso por FHC fora assinado por sessenta deputados paulistas – entre eles doze do PT, justamente o partido que pedia a condenação do presidente por não saber onde coloca sua assinatura. "Os deputados do PT que aprovaram esse projeto vão ter de se explicar", declarou o presidente de honra do partido, Luís Inácio Lula da Silva. Pura bazófia. Assinaram porque a obra naquela época nada tinha que despertasse a atenção dos vigilantes deputados petistas ou do presidente da República e seus auxiliares. Isso coloca os petistas na mesma posição do presidente que querem incriminar: ou eles também não lêem o que assinam, ou são cúmplices de Lau-Lau. Ambas as hipóteses são absurdas.


Dida Sampaio/AE
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães: "É um absurdo envolver o Fernando Henrique no caso do TRT paulista"

Com a divulgação da fita, Brasília entrou no modo de ebulição tão peculiar em momentos de crise. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) pediu a cabeça de Martus Tavares. "Esse moço foi de uma irresponsabilidade total", afirmou. O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, inocentou o presidente de qualquer culpa, mas não poupou Tavares. "A responsabilidade é do ministro." Na noite de quinta-feira, o presidente convocou uma reunião no Palácio do Planalto para avaliar o estrago. Outra reunião seria feita na sexta-feira, dessa vez no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente. A tensão pode ser medida pelo teor de uma nota oficial divulgada na semana passada. Nunca, em todas as crises anteriores – e não foram poucas –, o presidente precisou soltar um comunicado reafirmando seu compromisso com a "correção com o trato da coisa pública", segundo suas palavras. A nota seguia garantindo aos brasileiros que o Planalto não vai "acobertar" nenhum deslize penal praticado eventualmente pelo ex-secretário-geral do Planalto.
Fruto de reportagens exageradas, requentadas e de uma fita em que um criminoso procurado pela polícia acusa funcionários públicos, a crise da semana passada – na ausência de um fato novo – tem poucas chances de evoluir para uma tempestade de granizo sobre o Planalto. É uma crise de motivação equivocada, portanto. Já o personagem que a perpassa, Eduardo Jorge Caldas Pereira, um economista que trabalhou mais de quinze anos com FHC, quatro deles no Palácio do Planalto no posto de secretário-geral da Presidência, traz em si todos os ingredientes para fomentar uma crise de verdade. Ao deixar o governo, há dois anos, o ex-assessor participou da campanha da reeleição presidencial e atualmente ganha a vida – e que vida! – como consultor.
Para começo de conversa, Eduardo Jorge é amigo pessoal dos dois pilares podres que ruíram com a descoberta dos desvios de dinheiro da obra do TRT, o juiz Lau-Lau e o senador cassado Luiz Estevão. A amizade do ex-assessor com o ex-senador é antiga, muito próxima e inclui os familiares de lado a lado. Os casais se freqüentam. Quanto ao seu relacionamento com o juiz, o ex-assessor do presidente terá ainda muito que explicar. Para tornar mais confusa a participação de Eduardo Jorge nesse caso, o jornal O Estado de S. Paulo publicou na sexta-feira reportagem mostrando que o escritório de advocacia Caldas Pereira, que tem entre seus sócios dois irmãos e uma sobrinha do ex-assessor, trabalhou para a Incal. É isso mesmo, a Incal é aquela construtora responsável pelo prédio do TRT, cujos diretores chegaram a ser presos e só foram restituídos à liberdade mediante habeas-corpus.


Ricardo Stuckert
Milton Seligman, que deixou o governo em maio e passou no escritório de Eduardo Jorge para pedir "apoio no futuro": quando foi ver FHC no Planalto, encontrou Eduardo Jorge no gabinete; quando foi embora, ele continuou lá


De acordo com um ministro que esteve com o presidente na semana passada, depois do estouro da crise, a preocupação de FHC com uma possível investigação em torno de sua participação no caso TRT é nula. "Não tenho nada a ver com essa história e serei o maior defensor das investigações", comentou. Seu receio chama-se Eduardo Jorge. O presidente diz a pessoas próximas que já ouviu muita maledicência a respeito do antigo auxiliar, mas nunca lhe levaram uma prova ou indício concreto contra ele. "Eu me sentiria traído caso isso ocorresse", disse FHC. Na conversa com o ministro, o presidente foi confrontado com a pergunta:
– O senhor acha que Eduardo Jorge pode estar usando seu nome para facilitar negócios, presidente?
Fernando Henrique respondeu:
– Não tenho provas, mas não tenho dúvidas.


Sérgio Lima/Folha Imagem
O senador Pedro Simon faz ameaça contra o governo:"Ou sai esse moço, o Martus Tavares, ou sai a CPI para investigar o envolvimento de Eduardo Jorge no caso do TRT"


O ministro ficou tão impressionado com o que ouviu que decidiu reproduzir o diálogo a pelo menos dois parlamentares de sua confiança. Conhecido nos tempos do Planalto como "O Sombra", por sua aversão aos holofotes, Eduardo Jorge saiu do governo há dois anos. A versão que prevaleceu sobre a saída foi que o antigo assessor estava cansado. Responsável pelo serviço de informações do governo, hoje entregue ao Gabinete Militar, checava a biografia de todos os candidatos aos cargos de alto escalão. Eduardo Jorge também atuava como ponte entre o governo e a direção dos fundos de pensão das estatais, instituições que movimentam bilhões de dólares e decidem qualquer parada nas privatizações. Outra de suas funções era articular o apoio da base governista para acelerar a tramitação de projetos e emendas de interesse do Planalto. No final de 1998, Eduardo Jorge confessou a amigos que deixava o governo também por razões financeiras. "Preciso ganhar dinheiro", disse ele na época.
Desse ponto de vista, a saída de Eduardo Jorge do governo tem sido um sucesso. Trabalhando como consultor, tira quase 1 milhão de reais por ano, salário de presidente de multinacional. Os clientes lhe pagam entre 15.000 e 18.000 reais por mês para tê-lo como "conselheiro", segundo as próprias palavras. "Não faço lobby", disse Eduardo Jorge a VEJA. Não se pode dizer que ele seja um lobista como outro qualquer. O lobista, por definição, é um sujeito que, trabalhando para uma empresa, tenta aproximar-se dos governantes para viabilizar negócios. Eduardo Jorge é bem mais que isso. Pelos altos cargos que ocupou, é recebido com muito mais facilidade.


Ana Araújo
O ministro Martus Tavares, que levou os papéis para o presidente assinar: "Não há interferência do Executivo nos gastos do Judiciário"

Uma parte significativa de seus proventos vem de sua atuação na área de seguros. Sua entrada formal, como dono, no ramo dos seguros foi no ano passado, quando se tornou sócio de 10% de um grupo chamado Meta, que atua como corretora de seguros de vida e de planos de saúde. O grupo fatura 130 milhões de reais por ano e tem tradição de vender serviço a empresas estatais. Outra empresa de seguros da qual o secretário participa como conselheiro é a Delphos. Detalhe: nas duas últimas eleições presidenciais, o grupo Meta doou 250.000 reais a Fernando Henrique, e a Delphos, outros 200.000.
Desde que entrou para a Meta, a empresa já fechou dois bons contratos em áreas onde o livre trânsito de Eduardo Jorge no governo foi fator decisivo. Em fevereiro deste ano, o grupo Meta atuou como corretora de um contrato de seguro-saúde para 20.500 funcionários e ex-funcionários do Ministério dos Transportes e seus dependentes no valor de 6,5 milhões de reais. A seguradora, escolhida por meio de carta-convite, é a BrasilSaúde, do Banco do Brasil, que na data do contrato era presidida por José Maria Monteiro. Sua nomeação para o cargo passou pelas mãos de Eduardo Jorge. O contrato foi feito sem licitação. O argumento do ministério é de que o edital não ficou pronto a tempo. Na semana passada, o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, contou à imprensa que foi procurado por Eduardo Jorge para tratar de negócios.


Ana Araújo
Com uma força de Eduardo Jorge, Carlos Jereissatti arrematou a Telemar: agora a empresa contrata serviços do ex-assessor

As andanças de Eduardo Jorge pelos negócios de seguro despertam suspeitas potencialmente explosivas. Uma delas diz respeito justamente a sua atuação num negócio entre o Ministério dos Transportes e a seguradora do Banco do Brasil. Nessa transação, a empresa da qual ele é sócio recebeu uma comissão. Por melhores que tenham sido as condições de corretagem oferecidas pela empresa de Eduardo Jorge, fica no ar a desconfiança de favorecimento. O pecado está no fato de Eduardo Jorge ter intermediado uma operação entre um ex-colega de governo, o ministro Padilha, e o presidente da seguradora estatal que assumiu o cargo com a sua ajuda. Monteiro deixou o BB três meses depois.
Outro bom contrato foi fechado com a Telemar, o consórcio de telefonia. O grupo Meta atuou como corretor de seguros de todos os funcionários da empresa, 25 000 no total. Coincidência ou não, quando ainda estava no governo, Eduardo Jorge participou ativamente da formação do consórcio que venceu a licitação para a compra da Tele Norte Leste. Ele conduziu as seguradoras ligadas ao Banco do Brasil a se associar ao grupo integrado pelo empresário Carlos Jereissatti, a Andrade Gutierrez e a Inepar. Seu parceiro nessa operação foi o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio, demitido no escândalo do grampo do BNDES. "O pessoal do Jereissatti negociou a corretagem com o Meta. Sei que entre eles existe esse tipo de relação", afirma Pedro de Freitas, presidente da seguradora da Caixa Econômica Federal (Sasse).
Ana Araújo
Paulo Jares
O ministro Eliseu Padilha, dos Transportes: contrato de seguro para os funcionários do ministério intermediado por uma das empresas de Eduardo Jorge O amigão: Pedro de Freitas, presidente da seguradora da Caixa Econômica Federal, telefonemas freqüentes e encontros semanais com Eduardo Jorge "sem falar de negócios"
Eduardo Jorge estabeleceu conexões proveitosas no mundo empresarial. Sua opção preferencial pela área de seguros foi providencial. Um de seus grandes amigos no governo é justamente Pedro de Freitas, o presidente da Sasse. Ambos se falam semanalmente, almoçam juntos pelo menos duas vezes por mês, mas juram que conversam apenas "sobre questões pessoais". No mercado de seguros há 35 anos, Freitas sustenta que Eduardo Jorge jamais lhe pediu conselhos, orientação ou qualquer outra informação estratégica. Outra amizade "desinteressada" feita por Eduardo Jorge durante o governo foi com o presidente da Aliança do Brasil, uma coligada do Banco do Brasil na área de seguros, Manoel Pinto. Com ele, Eduardo Jorge tem uma história complicada. Em dezembro de 1996, antes de assumir a seguradora (por indicação de Eduardo Jorge), Pinto teve o seu nome envolvido num escândalo político. Então assessor da presidência do Banco do Brasil, foi apontado como o autor de uma lista contendo o nome dos deputados do PPB que tinham dívidas com o Banco do Brasil. Essa lista serviria para pressionar os parlamentares a votar a favor da emenda da reeleição. Na ocasião, o ex-ministro da Coordenação de Assuntos Políticos Luiz Carlos Santos, hoje presidente de Furnas, acusou Eduardo Jorge de ter sido o mentor intelectual do documento. O ex-assessor de FHC jura inocência até hoje. Mas a dúvida nunca se dissipou totalmente.


Adriana Elias/Folha Imagem
José Maria Monteiro, ex-tesoureiro de Covas: cargo no governo federal pelas mãos do ex-secretário

Num escritório de consultoria que mantém em Brasília, o EJP, o ex-assessor recebe parlamentares e funcionários da alta burocracia federal. Um senador que esteve lá e pede para não ser identificado conta que foi tratar de assuntos partidários, da mesma forma que fazia quando Eduardo Jorge trabalhava no Planalto. O ex-secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Milton Seligman também foi visitar Eduardo Jorge no escritório. "Fui despedir-me dele e ver se seria possível me ajudar a fazer contatos para meus negócios futuros", conta Seligman. Além do EJP, o Sombra tem participação acionária na LC Faria Consultoria, uma empresa com um ano de vida, tocada pelo seu ex-chefe de gabinete, Claudio de Araújo Faria. Durante todo o tempo em que ocupou o terceiro andar do Planalto, Eduardo Jorge teve Faria como seu assessor. Quando Eduardo Jorge saiu do governo, seu auxiliar também pediu as contas. A rigor, a LC Faria é uma empresa que presta o mesmo serviço que a EJP. Por que ele teria interesse em ser sócio de uma empresa que é sua concorrente em potencial? Ninguém sabe ao certo. Mas isso já desperta suspeitas. Uma das explicações pode estar guardada com os promotores de Justiça. O Ministério Público está investigando as empresas de Eduardo Jorge.


Ed Ferreira/AE
De Nicolau a Lau-Lau: o ex-secretário dizia que conversavam apenas sobre cargos. As denúncias falam agora em verbas

Com o presidente, a relação permaneceu próxima mesmo depois da demissão formal. E foi mantida mesmo depois que se revelaram na Justiça suas ligações com o juiz Lau-Lau em junho do ano passado. Eduardo Jorge costumava freqüentar o gabinete de FHC e chegou a assistir a algumas audiências. Numa dessas ocasiões, há cerca de oito meses, o ex-assessor participou de um encontro entre FHC e o diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Trataram da imagem presidencial. "Quando eu cheguei ele já estava lá. Quando saí, ele permaneceu", conta Montenegro. Mais de uma vez foi visto também no Palácio da Alvorada, inclusive em finais de semana. No fim do ano passado, Fernando Henrique o presenteou com uma fotografia oficial autografada. No réveillon, ele fazia parte da lista de convidados do presidente, que assistiu ao show de fogos de artifício de dentro do Forte de Copacabana. Na semana passada, FHC conversou por telefone com um amigo empresário, de São Paulo. Com a liberdade de quem conhece o presidente desde a década de 70, o empresário perguntou por que FHC não rompe de vez com Eduardo Jorge. "Nada me contaram de concreto até agora sobre ele. Mas se algo desastroso vier a ser revelado a mim sobre ele, não hesitarei em tomar providências", disse FHC.


Orlando Brito
Luiz Estevão cumprimenta Lídice, mulher de Eduardo Jorge, durante uma festa na capital ocorrida em 1997: o casal cultiva amizade com a família do ex-senador

Amigos próximos de Eduardo Jorge ainda no governo acham que ele está se expondo demais, exibindo sinais exteriores de riqueza que ele nunca ostentara. Ao comprar um apartamento de 1 milhão de reais no Rio de Janeiro, no exclusivo condomínio Praia Guinle, Eduardo Jorge ingressou num círculo social habitado por empresários e artistas milionários. Da relação de moradores, não faz parte nenhum funcionário público. Para comprar o imóvel, Eduardo Jorge obteve um empréstimo de 300.000 reais do BancoCidade, que possui apenas 8.000 pessoas físicas em sua carteira de clientes. A fama do banco é trabalhar com o alto empresariado, não com funcionários públicos aposentados, como Eduardo Jorge. Pelo menos o Eduardo Jorge que o presidente conheceu – um rábula dedicado, brilhante conhecedor de leis e que foi seu leal auxiliar por mais de quinze anos. Os sinais são de que aquele servidor não existe mais. Foi substituído por um grande facilitador de oportunidades que envolvem esferas de governo. A questão que interessa ao país é saber se FHC já foi apresentado a esse ás dos negócios.

Sempre no centro do poder

Álbum de família
Na década de 70, com senadores no lobby do Congresso Nacional

O cearense Eduardo Jorge Caldas Pereira, de 58 anos, é um fenômeno da vida pública. Sua trajetória no Congresso Nacional é incomparável. Aos 22 anos, militante dos movimentos de esquerda, passou num concurso para datilógrafo no Senado. Em menos de dois anos se tornou peça-chave na elaboração do Orçamento da União. À época, o então senador Mem de Sá chegou a fazer um discurso em plenário louvando o brilhantismo "daquele datilógrafo". Sua reputação lhe rendeu carta branca para implantar o Prodasen, o serviço de processamento de dados do Senado, e sugerir a criação de cargos, como o de assessor parlamentar. Paralelamente, passou a colecionar amigos e informações. Dono de memória invejável, vangloria-se de declamar artigos inteiros da Constituição e do regimento interno do Congresso sem titubear.
Fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos. Durante esse período, foi chamado pela New York University para assessorar assembléias legislativas americanas. Em 1983, ao voltar para Brasília, foi convidado pelo então senador Fernando Henrique Cardoso para trabalhar na CPI das Polonetas, que investigava denúncias de irregularidades num empréstimo feito pelo Brasil à Polônia. O senador ficou impressionado com o trabalho do assessor. Mais tarde, como auxiliar de FHC na Presidência, Eduardo Jorge centralizava informações sobre a burocracia, controlava a arapongagem no Planalto e atendia aos pedidos de parlamentares. O papel lhe valeu apelidos do tipo "Homem-Interpol", "Sherlock" e "O Sombra".

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